O mais fácil para Pedro Sánchez pode mesmo ter sido chegar ao poder. Governar quando tem apenas 84 em 350 deputados adivinha-se mais difícil. Os apoios à moção de censura contra Mariano Rajoy não se traduzem automaticamente em apoios no Congresso. E o novo primeiro-ministro espanhol, que toma hoje posse no Palácio da Zarzuela, poderá contar com desafios vindos não só da direita mas também da esquerda.."Tenho consciência da responsabilidade que assumo e do momento político tão complexo que vive o nosso país", disse Sánchez aos jornalistas depois de ser aprovada a moção de censura a Rajoy, com 180 votos a favor, 169 contra e uma abstenção, no rescaldo das condenações por corrupção num escândalo que terá financiado o PP. O líder socialista prometeu procurar consenso entre as forças políticas para "transformar e modernizar" Espanha e "responder às urgências sociais de muitas pessoas que sofrem com a precariedade e a desigualdade"..Ao contrário da geringonça em Portugal, que é um acordo de governo que garante o apoio parlamentar ao Partido Socialista, em Espanha os votos do Unidos Podemos, dos independentistas catalães ou dos nacionalistas bascos foram só para afastar Rajoy. Não garantem o apoio no Congresso, pelo que deverá ser difícil a Sánchez aprovar leis que não sejam de maioria fácil..O Unidos Podemos, liderado por Pablo Iglesias, insiste com Sánchez na necessidade de entrarem também para o governo, para dar maior estabilidade ao seu executivo. "Espero que Sánchez seja capaz de formar um governo forte e estável. Espero que não queira governar com 84 deputados", disse Iglesias. Essa proposta tinha sido rejeitada por Sánchez quando tentou formar governo, após as eleições de 2015..Os independentistas catalães também têm a sua própria agenda. A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) quer a transferência dos presos do processo independentistas para as prisões catalãs. Já o Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT) quer o fim da intervenção do governo de Madrid nas contas da Generalitat. O novo governo catalão, liderado por Quim Torra, também toma hoje posse, depois de se terem retirado os nomes de dois exilados e dois ministros da lista de consellers..Veto ao orçamento.Como desafio, cinco dos partidos que apoiaram Sánchez na moção de censura - além dos já citados, o Compromís e o EH Bildu - apresentaram ontem vetos ao Orçamento do Estado, que falta aprovar no Senado. "Começa a festa", terá dito Soraya Sáenz de Santamaría, n.º 2 de Rajoy. O líder socialista prometeu, em nome da estabilidade, aplicar o orçamento herdado do PP, o mesmo que criticava há poucos dias..Mas essa foi uma promessa a pensar nos cinco deputados do Partido Nacionalista Basco (PNV), que aprovaram o orçamento do PP - que inclui 540 milhões de euros de investimentos no País Basco. Os cinco eram cruciais para Sánchez ter a maioria na moção de censura. Como o PP tem maioria absoluta no Senado, irá travar qualquer veto ao Orçamento, mas o debate na terça--feira poderá revelar os problemas que Sánchez terá pela frente..Despedida de Rajoy."Foi uma honra ser presidente do governo e deixar Espanha melhor do que encontrei", disse Rajoy no discurso de despedida, antes da votação da moção. "Espero que o meu substituto possa dizer o mesmo quando chegar o seu dia. Desejo-o pelo bem de Espanha", acrescentou..A dúvida é saber quanto tempo conseguirá Sánchez aguentar o governo minoritário, quando além das pressões dos que agora foram aliados, terá a pressão também do Ciudadanos, que defendeu desde o início a realização de eleições..Após seis anos e meio no governo, Rajoy não revelou se continuará a ser deputado - Felipe González ficou no Congresso. Caso se retire, pode entrar no Conselho de Estado (onde ganharia cem mil euros por ano), mas o cargo não é compatível com posições no setor privado.