Rivera pede a Sánchez fim do bloqueio político e luz verde para Rajoy
Depois das eleições de 20 de dezembro, o líder do Ciudadanos chegou a acordo com o PSOE para apoiar a investidura de Pedro Sánchez. Mas não foi suficiente. Agora, e depois de o Partido Popular sair reforçado das eleições de 26 de julho, Albert Rivera está à beira de chegar a acordo com Mariano Rajoy. Contudo, as contas continuam a ser impossíveis de fazer a dois e a investidura do primeiro--ministro em funções só será possível com os socialistas. Ontem, Rivera pediu a Sánchez que se abstenha para permitir que a legislatura possa avançar, dizendo que ambos na oposição terão forças para empreender as reformas necessárias.
"Urge um governo, urgem reformas, urge ação. Face a este cenário, o PSOE pode manter-se à margem de qualquer negociação política ou permitir, com a sua abstenção, avançar com a legislatura. Deste modo poderia exigir a um governo em minoria do PP, como faria o Ciudadanos, as reformas, a regeneração e o controlo da corrupção que nunca quis fazer o partido de Rajoy", escreveu Rivera no jornal El País, numa tribuna intitulada "Aos meus compatriotas socialistas".
O Ciudadanos fez seis exigências a Rajoy em troca do voto positivo na investidura, que serão analisadas pelo comité federal do PP na quarta-feira. "Para o Ciudadanos, pensando só no nosso interesse partidário e tendo em conta a passividade e a falta de determinação de Rajoy, o mais cómodo seria usar os nossos 32 deputados para votar contra o atual presidente em funções, mesmo que Espanha ficasse bloqueada", escreveu Rivera no El País. "Contudo, preferimos utilizá-los para desbloquear Espanha, exigindo reformas e regeneração", acrescentou.
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Mas a junção dos 137 deputados eleitos pelo PP no escrutínio de 26 de junho com os 32 do Ciudadanos ainda não é suficiente para garantir essa investidura - cuja data ainda não está marcada. Na primeira votação são precisos 176 votos e na segunda apenas mais "sins" do que "nãos". Ambos os partidos recusam negociar com os nacionalistas, pelo que só a abstenção do PSOE poderá garantir a eleição de Rajoy.
"No Ciudadanos decidimos que, apesar de não gostarmos do atual governo nem acreditarmos que Rajoy seja a pessoa adequada para liderar uma nova etapa, é imprescindível que a legislatura e o país avancem", indica Rivera, lembrando que já passaram quase 300 dias desde que foram convocadas as eleições de 20 de dezembro - que tiveram de ser repetidas, por falta de acordo entre os partidos, a 26 de junho. No PSOE mantém-se o silêncio e o voto "não" na investidura de Rajoy.
O primeiro-ministro em funções, a passar o fim de semana prolongado em Pontevedra, falou aos media após o seu passeio matinal, sem se referir contudo ao texto de Rivera. Rajoy preferiu avisar que a imagem de Espanha ficaria "muito prejudicada" no estrangeiro se fosse necessário celebrar terceiras eleições - caso volte a não haver acordo entre os partidos. "Seria uma forma magnífica de fazermos todos figura ridícula", afirmou.
Luta interna
A reação oficial do PP coube a Pablo Casado, vice-secretário de Comunicação do partido, que considerou que a decisão de Rivera de aceitar trocar a abstenção pelo "sim" na investidura "demonstra que é um homem de Estado". Em declarações em San Sebastián, pediu a Sánchez que também o seja. O PSOE "tem agora a oportunidade de fazer algo bom por Espanha, que é desbloquear a legislatura", mediante a abstenção, "algo que não significa nada e que não o condiciona" já que só permite que comece a legislatura.
Segundo Casado, a negativa de Sánchez pode ser uma "estratégia de cálculo interno tendo em vista um futuro congresso" do PSOE. Esse mesmo cenário abordou Rivera no seu texto. "Espero e desejo que os atuais dirigentes socialistas pensem mais no nosso país e nos nossos compatriotas e menos em quem liderará o seu partido no futuro", conclui o dirigente do Ciudadanos. Há quem alegue que o objetivo de Sánchez é obrigar o comité central a forçar a abstenção, podendo depois chegar a uma luta pela liderança dizendo que não foi por ele que apoiou Rajoy.