Reunião da OMS. EUA criticam ausência de Taiwan e apontam "falhanço" que "custou muitas vidas"

Os Estados Unidos condenaram esta segunda-feira a exclusão de Taiwan da reunião anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), alegando que a decisão "minou ainda mais a credibilidade" da agência da ONU.
Publicado a
Atualizado a

Os países membros da OMS decidiram adiar a decisão sobre a participação futura de Taiwan como país observador, depois de o diretor-geral, Tedros Ghebreyesus, lhe ter negado a presença na reunião anual que esta segunda-feira se iniciou, contrariando o que tinha sido pedido pelos Estados Unidos.

Taiwan foi excluído da OMS, onde tinha o estatuto de observador até 2016, por pressão da China, quando Tsai Ing-wen chegou à Presidência daquele território, com uma estratégia de rejeitar o princípio da unidade da ilha com a China continental.

Numa nota à imprensa, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, criticou "a falta de independência" de Tedros Ghebreyesus, a quem acusa de ter escolhido "não convidar Taiwan sob pressão da República Popular da China".

O Governo dos EUA tem criticado a forma como a OMS tem gerido a pandemia de covid-19, acusando-a de estar ao serviço dos interesses da China, onde teve origem a crise sanitária global, tendo mesmo suspendido a contribuição financeira para esta agência das Nações Unidas.

Na abertura da reunião anual da OMS, esta segunda-feira, os países membros concordaram em debater a questão de Taiwan, mas tomar uma decisão apenas até ao final do ano.

"Enquanto o mundo continua a combater a pandemia de covid-19, precisamos de instituições multilaterais que respeitem as suas missões estatutárias e sirvam os interesses de todos os seus estados membros, em vez de se enredarem em fazer política", protestou o chefe da diplomacia norte-americana.

"Ninguém questiona o facto de Taiwan ter implementado uma das respostas mais eficazes do mundo para conter a pandemia, apesar da sua proximidade geográfica com o berço do vírus, em Wuhan, na China", disse Pompeo.

"Não é uma surpresa. Democracias transparentes, saudáveis e inovadoras como Taiwan sempre respondem melhor e mais rapidamente a pandemias do que regimes autoritários", acrescentou o secretário de Estado.

Para Pompeo, o diretor-geral da OMS tinha "o poder legal e os precedentes necessários" para convidar Taiwan para a reunião anual da organização.

"As ações difamatórias da China para silenciar Taiwan demonstram quão vazias são as suas reivindicações pela transparência e cooperação internacional contra a pandemia e tornam a diferença entre China e Taiwan ainda mais flagrante", lamentou Mike Pompeo.

"Falha custou muitas vidas", acusam EUA

Os Estados Unidos criticaram ainda o "fracasso" da OMS em obter e fornecer informações vitais sobre o covid-19 que poderiam ter impedido a pandemia e salvado muitas vidas. "Devemos ser francos sobre uma das principais razões pelas quais esse surto saiu do controlo: houve uma falha nessa organização em obter as informações de que o mundo precisava, e esse fracasso custou muitas vidas", afirmou Alex Azar, secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA.

Azar insistiu que a OMS precisava de mudar e de se tornar mais transparente, ao apoiar uma revisão independente de "todos os aspetos" da resposta da agência de saúde da ONU à pandemia.

A Assembleia Mundial da Saúde, que se iniciou esta segunda-feira, é o órgão de decisão da OMS, que orienta a política desta agência das Nações Unidas junto dos seus Estados membros, sendo seguida, em 22 de maio, por uma reunião de seu conselho de administração.

Washington tem elogiado a resposta de Taiwan à propagação do novo coronavírus, enquanto acusa a China de esconder a verdade sobre a origem e a escala da epidemia, que surgiu no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan.

O Governo americano acredita ainda que a OMS negligenciou um alerta feito por Taiwan sobre a gravidade da crise sanitária, o que a agência da ONU nega.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 315 000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou agora a ser o que tem mais casos confirmados (quase 2,1 milhões contra 1,9 milhões no continente europeu), embora com menos mortes (cerca de 125 mil contra mais de 166 mil).

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt