Resgate na gruta: o final feliz que os tailandeses viveram com emoção, mas sem comoção

Silêncio, contenção e muita calma foram constantes durante as operações que salvaram os 12 jovens e o seu treinador de uma gruta na Tailândia

Os 18 dias de incerteza e expectativa vividos à escala global manifestaram-se em Mae Sai, na Tailândia, através de uma serenidade singular, entre um silêncio respeitoso perante o adensar do drama, pontuado quase sempre por um sorriso e uma amabilidade desarmantes.

Na noite de terça-feira, quando foi anunciado o sucesso das operações de resgate e que todas as crianças estavam a salvo, foi percetível a emoção, mas não a comoção.

Mesmo na escola, no dia seguinte ao final feliz com o resgate das 12 crianças, entre os 11 e os 16 anos, e o seu treinador de futebol, de 25, os estudantes e amigos de seis dos jovens futebolistas que frequentam a Maesaiprasitsart School falaram do seu contentamento, mas sempre com uma contenção irrepreensível.

Ajudada por uma colega que está a estudar inglês, Arthittaya Kunadoi, de 15 anos, que serviu de "porta-voz" do grupo de amigos das crianças resgatadas, repetiu por duas vezes que estava "agradecida" pelo desfecho, sem expressar sinais de ansiedade ou mínima efusividade.

No "acampamento", que funcionou como centro logístico improvisado pelas autoridades tailandesas assim que tiveram início as operações para salvar a equipa de futebol do interior da gruta, uma voluntária de 34 anos sublinhava a "espiritualidade" com que a adversidade é sentida e manifestada no país.

Sempre estivemos tranquilos. A esperança deu-nos força

"Sempre estivemos tranquilos. A esperança deu-nos força e, acima de tudo, não nos impediu que deixássemos de olhar para tudo o que tínhamos de fazer, aqui a preparar refeições, ou na gruta, a mergulhar para salvar toda a gente", explicou Fah Nantida, enquanto preparava uma série de caixas de papel nas quais depositava uma salada fria cujo destino seria ainda o teatro das operações.

Próximo, um voluntário que serviu de tradutor para algumas agências noticiosas e canais de televisão referia-se a essa união como uma maneira de todos serem consequentes com uma ideia particularmente simples: "todos temos uma missão a cumprir".

"É o sistema tailandês", quase murmurou em jeito de desculpa, para concluir uma explicação que era, afinal, uma simples constatação das suas vivências.

No dia do resgate final, não havia também desassossego nas palavras do monge que, no meio de uma estrada enlameada, descalço e vestido com uma túnica cor açafrão, queria chegar junto à gruta para enviar ao grupo retido no seu interior "energia positiva, holística".

Phaecswoo Chat tinha atravessado a fronteira de Myanmar propositadamente para transmitir essa "energia que nos liga a todos no mundo", convicto de que o treinador, antigo monge budista durante uma década, teria tido um papel decisivo na sobrevivência das crianças, ajudando-as com técnicas de meditação.

Horas depois, o líder da célula de crise, Narongsak Osatanakorn, exclamava para a legião de jornalistas oriundos dos quatro cantos do mundo, "massacrado" pelos flashes dos fotógrafos fotográficas e pela iluminação que servia as câmaras de televisão: "Fizemos uma coisa que ninguém pensava ser possível".

Na noite em que foi confirmado que estavam "todos a salvo", após 18 dias de exposição mediática, quatro dias depois da morte de um dos mergulhadores e ainda pressionado pela possibilidade de uma nova tempestade inundar ainda mais o complexo subterrâneo, Narongsak Osatanakorn voltou a sorrir.

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