Quatro candidatos em condições de irem à segunda volta em França

Candidato da esquerda e dos comunistas não cessa de subir nas sondagens. Mélenchon já ultrapassou François Fillon.
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"É inédito. Tudo pode acontecer", declarava ontem o diretor do Departamento de Estudos do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) num comentário à mais recente tendência nas sondagens sobre a primeira volta das presidenciais de 23 de abril. Jérôme Fourquet comentava o facto de, neste momento, os quatro principais candidatos se encontrarem todos com intenções de voto à volta dos 20%, o que, tendo em consideração a margem de erros, significa que não só Marine Le Pen e Emmanuel Macron, como François Fillon ou Jean-Luc Mélenchon podem chegar à segunda volta, a 7 de maio.

Mélenchon, esquerda e com apoio comunista, revelou-se a surpresa nos últimos dias ao ultrapassar Fillon, centro e direita, numa sondagem Kantar Sofres-Onepoint divulgada no domingo. O candidato da esquerda é creditado com 18% das intenções de voto, enquanto Fillon recolhe 17%, sendo a primeira vez que tal sucede. Marine Le Pen, extrema-direita, e Macron, centro-esquerda, recebem 24% cada um, valor constante face a anteriores sondagens. O facto é que, desde o início da campanha, cuja fase oficial se iniciou ontem, Mélenchon passou de uma média de 12% nas sondagens para 18% na divulgada domingo. Em votos, significa que tem mais 1,8 a dois milhões de eleitores do que no início do ano.

Para Jérôme Fourquet, este cenário pode favorecer Mélenchon, eventual destinatário do voto útil de toda a esquerda, tanto mais que o candidato socialista, Benoît Hamon, nunca chegou a descolar nas intenções de voto. A interrogação seguinte é se a principal vítima da dinâmica de Mélenchon será, como parece mais provável, Fillon ou Macron ou Marine Le Pen. No quadro atual, o primeiro surge como o mais fraco dos três, tendo ainda ontem surgido novas revelações sobre remunerações a sua mulher, Penelope, anteriores à data da sua contratação como assessora do marido, que teria sido em 1986. No entanto, segundo informação do Mediapart, corroborada por outros media franceses, Penelope Fillon, terá "recebido dinheiros públicos desde o primeiro mandato parlamentar do marido, graças a contratos para estudos" e outros trabalhos - ou seja, desde meados de 1981.

As novas revelações podem comprometer em definitivo as hipóteses de Fillon chegar à votação de 7 de maio. E se teve um comício bem-sucedido domingo em Paris, nele proferiu uma frase ontem considerada quase unanimemente como infeliz: "não peço que gostem de mim, peço-vos o vosso apoio". Para o comentador do Libération, Laurent Joffrin, foi o apelo menos conseguido que se poderia imaginar. É "como dizer: podem achar-me desonesto, mas sou eu que defendo as vossas ideias", escreve o comentador.

Mesmo entre o campo político de Fillon, multiplicam-se os sinais da debilidade deste. Le Figaro referia ontem que o candidato da direita e do centro era o mais citado nas redes, mas para ser criticado. E no dia anterior, o mesmo jornal, publicara uma simulação de voto na segunda volta em que Macron ganha a Marine por 61% contra 39%, Fillon tem 55% contra 45%, Mélenchon tem 57% contra 43%. Numa segunda volta entre Macron e Fillon, o primeiro esmaga o segundo: 66% contra 34%. É claro onde está o elo mais fraco.

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