Putin queria vitória de Trump, mas nega interferência
Os dois presidentes estiveram reunidos durante mais de duas horas, num encontro onde só os tradutores estiveram presentes. Seguiu-se um almoço de trabalho em equipa e agora a conferência de imprensa (em atualização).
O presidente russo, Vladimir Putin, considera "um sucesso" o seu encontro com o presidente norte-americano, Donald Trump. "Há ainda desafios, mas demos o primeiro passo", disse Putin. "Tenho a certeza que nos vamos reunir outra vez no futuro, muitas vezes", indicou Trump, falando num "dia construtivo".
Putin lembrou que a Guerra Fria é algo do passado, mas que "hoje tanto a Rússia como os EUA enfrentam novos desafios". O presidente russo refere que as negociações com Trump foram "os primeiros passos para melhorar a relação" entre os dois países e restaurar "um nível aceitável de confiança".
Trump falou num "diálogo direto, aberto, profundamente produtivo. Correu muito bem". O presidente norte-americano lembra que a relação entre EUA e Rússia nunca esteve pior do que agora, mas que isso começou a mudar hoje. "A nossa relação nunca esteve pior do que está agora. Contudo, isso mudou há cerca de quatro horas", disse, referindo-se ao início do encontro com Putin.
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"É do interesse dos nossos países de manter o contacto", disse Trump, dizendo esperar novos encontros em breve.
"Os desacordos entre os nossos dois países são bem conhecidos e o presidente Putin e eu discutimo-los longamente", afirmou Trump, lembrando que mesmo no tempo da Guerra Fria os dois países conseguiram manter um "diálogo forte". Trump diz que quer "continuar a tradição diplomática dos EUA" e que um diálogo construtivo "é bom para os EUA e para a Rússia", mas também "para o mundo.
"Demos os primeiros passos para o futuro e um diálogo forte", reiterou Trump. "Prefiro correr riscos políticos em nome da paz, do que arriscar a paz por motivos políticos", referiu o presidente norte-americano.
Os dois chefes de Estado reuniram-se durante mais de duas horas, num encontro a dois só com os tradutores presentes, no palácio presidencial em Helsínquia, no centro da capital finlandesa. Depois, seguiu-se um almoço de trabalho, já na companhia das respetivas equPutin ipas.
Alegada interferência russa nas eleições dos EUA
No encontro, Trump levantou a questão da alegada interferência russa nas presidenciais norte-americanas de 2016, dizendo na conferência de imprensa que achava que era melhor tratar do tema em pessoa.
"Tive que repetir o que disse antes, incluindo em encontro pessoais com o presidente, que a Rússia nunca interferiu e não planeia interferir na política doméstica dos EUA, incluindo eleições", disse Putin, pedindo que lhe seja apontado um único facto sobre a alegada interferência russa.
"Queria que Trump ganhasse porque ele falou em normalizar as relações com a Rússia", admitiu Putin, numa das respostas aos jornalistas.
Sobre este tema, Trump reiterou que não houve qualquer conluio. Houve "zero conluios" com a Rússia. "Ganhei a Hillary Clinton facilmente", indicou o presidente norte-americano, lamentando o impacto negativo que as acusações tiveram nas relações entre os dois países.
"O presidente Putin disse que não é a Rússia. Não vejo razões para ser", afirmou Trump, sobre a alegada interferência, preferindo acreditar em Putin do que nas suas próprias agências de informação.
Questionado mais tarde sobre se os russos tinham "material comprometedor" sobre Trump, Putin lembrou que nem sabia que Trump, então um cidadão comum, estava na Rússia. E que havia mais de cinco mil empresários naquela conferência e que isso implicaria recolher material sobre todos.
"Se eles tivessem material, já tinha sido revelado", acrescenta Trump, mesmo antes do final da conferência de imprensa.
Em relação à investigação do procurador especial Robert Mueller, que acusou 12 alegados agentes russos de piratear as contas de email da campanha democrata, Putin diz que se Mueller pedir à Rússia para questionar os suspeitos, Moscovo vai ajudar, ao abrigo dos acordos que existem entre os dois países. Mas que a Rússia também quererá questionar os agentes norte-americanos suspeitos de atos ilegais contra a Rússia.
Temas nucleares
Putin diz que, enquanto potências nucleares, ambos os países têm responsabilidades na "segurança internacional". O presidente referiu ainda ser necessários que os dois países trabalhem em conjunto no desarmamento nuclear e também para evitar a colocação de armas no espaço. Sobre a Coreia do Norte, disse estar feliz de as coisas estar "a começar a resolver-se"
Em relação à proliferação nuclear, Trump considera "ridículo" que Rússia e EUA tenham 90% do arsenal nuclear. "Discutimos a proliferação nuclear. Depois de hoje, estou certo que nós e eles queremos acabar com esse problema."
E disse também que informou Putin sobre a sua reunião com o líder norte-coreano e diz que ambos os países querem a desnuclearização da Coreia do Norte.
Sobre a Síria, Trump diz que a crise é "complexa" e lembra que a "cooperação entre ambos os países têm o potencial de salvar centenas de milhares de vidas".
O presidente russo mencionou ainda a situação na Ucrânia. "Os EUA deviam convencer a liderança ucraniana a cumprir os acordos de paz de Minsk", referiu.
Questionado diretamente sobre se tinha pedido ao presidente norte-americano que reconhecesse a anexação russa da Crimeia, Putin indicou que Trump "continua a defender que foi ilegal anexá-la" e acrescentou: "O nosso ponto de vista é diferente".
História
Trata-se da quarta vez que presidentes norte-americanos e russos se encontram na capital da Finlândia depois de Gerald Ford e Léonid Brejnev (1975), George Bush e Mikhail Gorbatchev (1990) e Bill Clinton e Boris Ieltsin (1997).
Putin, há mais de 18 anos à frente dos destinos da Rússia (como primeiro-ministro ou presidente), já conheceu quatro dos inquilinos da Casa Branca.