Príncipe herdeiro saudita chama "novo Hitler" ao guia supremo do Irão
O príncipe herdeiro saudita qualificou esta sexta-feira o guia supremo iraniano de "novo Hitler", em entrevista ao New York Times, num momento em que aumentam as tensões entre a Arábia Saudita sunita e o Irão xiita.
"Não pretendemos que o novo Hitler no Irão reproduza no Médio Oriente o que sucedeu à Europa [sob Hitler]", indicou Mohammed ben Salmane numa referência ao ayatollah Ali Khamenei e em entrevista divulgada na quinta-feira.
Num sinal sobre uma escalada das tensões entre o seu país e o Irão, o príncipe herdeiro saudita acrescentou: "Aprendemos que na Europa [durante a época de Hitler] que o apaziguamento não funciona".
O príncipe saudita, 32 anos, emitia uma comparação com o final da década de 1930 na Europa, onde o Reino Unido e da França satisfizeram diversas ambições expansionistas de Hitler para tentar refrear a Alemanha, mas sem conseguir evitar a Segunda Guerra Mundial.
A Arábia Saudita e o Irão, que não mantêm relações diplomáticas desde janeiro de 2016, confrontam-se atualmente sobre diversos dossiês regionais, em particular os conflitos na Síria e no Iémen, onde apoiam campos opostos.
Este antagonismo entre as duas potências do Médio Oriente agravou-se no início deste mês, após o anúncio pelo primeiro-ministro libanês Saad Hariri da sua demissão, na capital saudita, em protesto contra a "apropriação" do Líbano pelo Hezbollah xiita e do seu aliado iraniano, e também após a interceção perto de Riade de um míssil balístico disparado pelos rebeldes iemenitas apoiados por Teerão.
"O comportamento e as observações imaturas, imprevisíveis e insensatas do príncipe herdeiro saudita têm por consequência que ninguém no mundo fornece qualquer credibilidade a declarações deste género quando são produzidas", reagiu em comunicado Bahram Ghassemi, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.
Os erros motivados pelo aventureirismo do príncipe herdeiro saudita, o último relacionado com "o escândalo sobre a ingerência saudita nos assuntos internos do Líbano, estão na origem de grandes problemas para os aliados tradicionais da Arábia Saudita", considerou Ghassemi, ao comparar o príncipe Mohammed a um "ditador".
Na sua entrevista, Mohammed ben Salmane qualificou por sua vez de "grotescas" as acusações que consideram a purga do início de novembro que atingiu cerca de 200 príncipes, responsáveis políticos e empresários, como um golpe de força que promoveu para assegurar o seu crescente poder.
O príncipe herdeiro, que reivindica o apoio "de uma maioria da família real", disse ao New York Times que numerosas pessoas que foram detidas em Riade nessa ocasião lhe prestaram agora fidelidade.
Segundo disse, a grande maioria das pessoas detidas já concordaram num "acordo" que deverá render ao Estado 100 mil milhões de dólares (84,4 mil milhões de euros) que as autoridades consideram ganhos mal adquiridos.
O novo homem forte da Arábia Saudita aplicou desde há menos de dois anos uma política de reformas drásticas no plano económico e social que estão a alterar diversos hábitos neste reino ultraconservador onde metade da população tem menos de 25 anos.