O primeiro-ministro da Roménia anunciou hoje que o Governo vai abolir um polémico decreto sobre corrupção, que motivou os maiores protestos no país desde a queda do regime de Nicolae Ceausescu em 1989.."Amanhã [domingo] vamos promover uma reunião do Governo para revogar este decreto", disse Sorin Grindeanu numa conferência de imprensa em Bucareste. "Não queremos dividir a Roménia. Não pode estar dividida em duas"..O decreto, aprovado na terça-feira e que deveria entrar em vigor na próxima sexta-feira, definia um crime de abuso de poder, punível com prisão, apenas se a soma envolvida ultrapassasse os 200.000 lei (44.000 euros)..O Governo, no poder há cerca de um mês, também pretendia através de um decreto separado libertar da prisão cerca de 2.500 pessoas que cumprem penas inferiores a cinco anos..Cerca de 300.000 pessoas manifestaram-se na quarta-feira em Bucareste e em diversas cidades do país balcânico numa mobilização sem precedentes desde a queda do regime de Ceausescu em 1989, para denunciar a revisão do código penal iniciada há um mês pelo Partido social democrata (PSD), no poder desde a sua vitória folgada (45,48%) nas legislativas de dezembro..O texto poderia permitir que diversos responsáveis políticos suspeitos de corrupção escapassem a processos judiciais, incluindo o poderoso líder do PSD Liviu Dragnea, antigo ministro e atual presidente da Câmara de Deputados (parlamento), de momento está indiciado num processo por emprego fictício..Na quinta-feira, Dragnea garantiu que não poderia beneficiar do novo decreto e denunciou "uma tentativa para desestabilizar o Governo por meios mais ou menos legais", referindo-se a "uma campanha de mentiras e desinformação"..Nas suas declarações, acusou ainda o Presidente de centro-direita Klaus Iohannis, com quem o Executivo mantém uma guerra aberta, de ser "o autor moral da violência" que ocorreu no final da manifestação na capital, Bucareste, entre grupos isolados de manifestantes e forças policiais..Os críticos consideravam que o objetivo da nova lei se destinava a "amnistiar" vários milhares de funcionários do Estado e políticos envolvidos nos últimos anos em escândalos de corrupção, muitos deles filiados no PSD de Grindeanu..Esta semana, a União Europeia, que integrou a Roménia em 2007, e os Estados Unidos também manifestaram preocupação com a adoção do texto.