Polícia turca prende 21 académicos por assinarem petição. Erdogan chamou-os ignorantes e Chomsky respondeu

O presidente turco acusou Noam Chomsky e outros intelectuais que assinaram a petição de serem aliados dos terroristas
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A polícia turca deteve esta sexta-feira duas dezenas de intelectuais que assinaram uma petição em que se apela ao fim das operações do exército contra a rebelião curda. Sob ordem do Ministério Público, 21 académicos foram detidos durante a madrugada e colocados sob custódia policial em Kocaeli, noroeste da Turquia, no âmbito da instauração de um inquérito sobre "propaganda terrorista" e "insulto às instituições e à República turca", noticiou a agência noticiosa oficial Anatolia.

"Esta horda de universitários colocou-se claramente no campo da organização terrorista [numa referência ao PKK] e cuspiu o seu ódio sobre o povo turco", referiu na quinta-feira Recep Tayyip Erdogan num discurso em Ancara.

Recep Tayyip Erdogan não poupou críticas aos assinantes da petição, inclusive aos estrangeiros, como o linguista e pensador norte-americano Noam Chomsky, e acusou-os de ter uma "mentalidade do colonialismo". "Estes supostos intelectuais (...) são indivíduos sombrios que não têm qualquer respeito pela sua pátria", insistiu o homem forte da Turquia, que os acusou de "traição".

A petição, uma "iniciativa de universitários pela paz", reivindica o fim da intervenção das forças de segurança contra os membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no sudeste de maioria curda do país. Num texto intitulado "Não seremos associados a este crime", é denunciado "um massacre deliberado e planificado em total violação das leis turcas e dos tratados internacionais assinados pela Turquia".

"Escrever uma assinatura num pedaço de papel não significa nada. Venha à Turquia", continuou o presidente no discurso, referindo-se diretamente ao filósofo norte-americano, ao qual chamou "sombrio e ignorante". "Chomsky vai poder ver o que está a acontecer com os seus próprios olhos".

Chomsky respondeu ao presidente turco num e-mail enviado ao jornal britânico The Guardian. No texto, Noam afirmou que se decidir visitar o país não será pelo convite do presidente "mas, como muitas vezes antes, a convite de muitos dissidentes corajosos, incluindo os curdos que estão a ser atacados há vários anos".

Na mensagem, Chomsky acusou ainda Erdogan de hipocrisia pois, "a Turquia culpa o Estado Islâmico [do ataque em Istambul], que Erdogan tem auxiliado em muitos aspetos, além de apoiar a Frente al-Nusra, que não é muito diferente. Depois, ele lança um discurso inflamado contra aqueles que condenam os crimes contra os curdos - que são a principal força no terreno contra o Estado Islâmico na Síria e Iraque".

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"Existe alguma necessidade de fazer mais comentários?", terminou Noam Chomsky.

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Após mais de dois anos de cessar-fogo, as hostilidades entre as forças militares e policiais turcas e o PKK foram retomadas no verão passado, comprometendo as conversações de paz iniciadas em 2012 para pôr termo a um conflito que desde 1984 já provocou mais de 40 mil mortos.

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Ancara lançou no mês passado uma ofensiva em que participaram cerca de 10 mil homens, apoiados por tanques e helicópteros, para desalojar os rebeldes em Silopi e Cizre, bem como no distrito histórico de Sur, em Diyarbakir, a grande cidade curda do país.

Inúmeros civis foram mortos nesses combates, fazendo mergulhar a região em estado de guerra. Mais de 3.000 "terroristas" do PKK foram "eliminados" em 2015, segundo dados divulgados pelo chefe de Estado turco.

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