Polícia moçambicana prende dois suspeitos de tráfico de órgãos de crianças
A Polícia de Gondola, Manica, centro de Moçambique, deteve dois jovens por suspeita de rapto e tentativa de tráfico de órgãos de uma criança de quatro anos, disse hoje à Lusa fonte da corporação.
A menor desapareceu na sexta-feira numa casa do bairro Josina Machel, tendo a polícia, após denúncia, resgatado a menor no domingo, com vida e nua, na varanda de uma residência que os dois suspeitos partilhavam como domicílio.
Esperança Calisto, comandante distrital da Polícia de Gondola, disse que os dois suspeitos, já detidos, terão sido vistos a chamar a criança, momentos antes do rapto, quando a avó, com quem ela vivia, a tinha deixado à responsabilidade de uma vizinha para fazer compras no mercado.
"Os indiciados dizem que não sabem nada, mas há uma pessoa que diz ter sido contactada por um deles, para ir matar alguém e receberia 10 mil meticais (176 euros), porque ele [um dos suspeitos] já havia recebido 30 mil [530 euros] de alguém", declarou Esperança Calisto.
"Estamos a trabalhar para que nos indiquem o tal patrão que lhes deu dinheiro para lhe arranjar órgãos humanos", disse a comandante distrital.
A avó da menor descreveu que a menor foi roubada e deixada nua num cativeiro no bairro de Mazicuera, a quase um quilómetro de distância da sua casa.
"Começámos a procurar a criança juntamente com a polícia. A criança disse que estava em Mazicuera Nhamudima dentro de casa, não comia, negava a comida, vivia sempre assim, foi-lhe tirada a roupa, e, por causa de movimentos [de buscas] foi levada para outro", contou à Lusa Sofia Manuel, moradora na zona.
Um grupo da população chegou a provocar um tumulto no comando distrital da Polícia de Gondola, exigindo que lhes fossem entregues os suspeitos para fazer "justiça popular" e, em paralelo, outro grupo pedia "punição severa" para se travar a ação de tráfico humano.
Este é o segundo caso de rapto nos últimos quatro meses nesta região, depois de, em setembro, a polícia de Gondola ter prendido um homem por tráfico e tentativa de venda do seu próprio filho, supostamente para sustentar outra parte da família que enfrentava fome e falta de roupa.
"O homem estava disposto a vender a criança viva, ou parte dos órgãos. No ato da detenção [no interior de um cemitério no Inchope] ele levava uma catana para responder a qualquer pretensão do cliente", precisou Esperança Calisto.
Em 2012 as autoridades de Manica ativaram um "alerta vermelho" com a intensificação de casos de tráfico de seres e órgãos humanos, tendo um ano mais tarde iniciado uma investigação a várias organizações religiosas, ao associar a "explosão" de implantação de seitas e centros de acolhimentos de crianças órfãs e vulneráveis com o aumento de casos de tráfico, sobretudo de crianças, na região.