Polícia prende ex-assessor de filho de Bolsonaro envolvido em esquema de corrupção
Procurado há meses, Fabrício Queiroz, figura central do caso de desvio de dinheiro dos assessores de Flávio Bolsonaro, estava escondido num imóvel do advogado da família do presidente.
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo há 30 anos do presidente Jair Bolsonaro, foi preso preventivamente na cidade de Atibaia, no interior do estado de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (dia 18).
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O braço-direito do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro é considerado a peça chave do esquema de corrupção, chamado de "rachadinha", que desviava dinheiro de assessores fantasmas do gabinete do hoje senador.
Procurado há meses - a hashtag "onde está o Queiroz" foi das mais partilhadas no país desde dezembro de 2018 quando o escândalo se tornou público - o ex-assessor estava afinal há cerca de um ano a viver num imóvel de Frederick Wassef, advogado do parlamentar que ainda na quarta-feira esteve na tomada de posse do novo ministro da comunicação Fábio Faria. Foram apreendidos telemóveis, dinheiro e documentos do ex-assessor.
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A operação policial chama-se "Anjo", a alcunha de Wassef.
Queiroz foi depois levado para uma unidade da polícia civil em São Paulo, de onde seguiu de helicóptero para a prisão de Benfica, no Rio de Janeiro.
"Mais uma peça foi movida contra Jair Bolsonaro", reagiu Flávio Bolsonaro no Twitter.
Da operação policial constou ainda um mandato de busca e apreensão num imóvel, no Rio, que está da lista de bens de Jair Bolsonaro, segundo a imprensa brasileira.
A ex-mulher de Queiroz também foi alvo de mandato de prisão preventiva em sua casa mas não foi encontrada e considerada foragida.
Queiroz entrou na mira das autoridades logo em dezembro de 2018, meses após a eleição de Bolsonaro, por ter recebido, segundo a investigação, "quantias atípicas de dinheiro" na sua conta, Essas quantias atípicas, de 1,2 milhão de reais [mais de 200 mil euros, ao câmbio atual] pertenciam aos salários dos outros assessores de Flávio Bolsonaro, enquanto deputado estadual do Rio de Janeiro.
Esse esquema, conhecido no Brasil por "rachadinha", consiste na contratação de assessores fantasma, pagos com dinheiro público, Os ordenados, ou a maior parte deles, desses assessores são depois entregues ao deputado que os contrata.
Entre os assessores de Flávio estavam familiares do próprio Queiroz e do criminoso Adriano da Nóbrega, líder da milícia Escritório do Crime, morto em tiroteio com a polícia em fevereiro deste ano.
Flávio demitiu Queiroz em outubro de 2018, entre a primeira e a segunda volta das eleições que o elegeram senador. Segundo Paulo Marinho, suplente de Flávio no cargo e um dos financiadores da campanha de Jair Bolsonaro à presidência, a demissão surgiu depois de a família ser informada de que Queiroz estava na mira policial por uma fonte da corporação.
Na oposição, Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores que perdeu a eleição para Bolsonaro, e Joice Hasselmann, dissidente do bolsonarismo, festejaram a prisão nas suas redes sociais, entre muitas outras reações no mesmo tom.
A imprensa classificou a notícia de "pólvora na direção do Palácio do Planalto". Bolsonaro, que todas as manhãs costuma conversar com apoiantes à porta da residência oficial, hoje não foi ao local.