"Pequeno Nicolás", o regresso do jovem burlão espanhol
Francisco Nicolás Gómez Iglesias saltou para a ribalta em outubro de 2014, quando com apenas 20 anos foi detido pela polícia espanhola por suspeita de falsificação, usurpação de funções públicas e esquemas fraudulentos. O "pequeno Nicolás", como se tornou conhecido, fazia-se passar por representante do governo ou dos serviços secretos para mover-se entre destacados políticos e empresários. Mas, segundo o último esquema divulgado pelo jornal El Mundo, nem o nome da vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría sabia escrever.
Nos documentos que foram apreendidos na casa do "pequeno Nicolás" quando foi detido, há dois anos, estava um falso dossiê assinado por "Saez" de Santamaría que o jovem burlão enviou à empresa Mercadona (principal cadeia de supermercados em Espanha). Não era o único erro no documento, em que afirmava que o governo tinha conhecimento de uma operação por parte dos franceses do Carrefour para desprestigiar a empresa espanhola - dizendo que os seus produtos eram cancerígenos. A informação vinha de escutas telefónicas e de um espião no conselho de administração do Carrefour, que denominava "4F". Nicolás pedia dinheiro para intervir.
Nascido numa família de classe média, Nicolás começou a frequentar a sede do Partido Popular de Camartín (Madrid), onde os seus pais estavam inscritos, aos 15 anos. E foi aí que começou a movimentar-se na alta-roda da sociedade, colecionando fotografias com o ex-primeiro-ministro Mariano Rajoy ou até a cumprimentar o rei Felipe VI depois da cerimónia de proclamação.
O pequeno Nicolás apresentava-se a empresários e políticos como alguém que ocupava um alto cargo numa instituição importante, como dirigente do PP, assessor do Gabinete Económico do Palácio da Moncloa, das direções da Guardia Civil ou até do Centro Nacional de Inteligência (a secreta espanhola). E que poderia abrir as portas para a concretização de negócios. Tudo isto enquanto estudava Direito.
Seria desmascarado quando foi preso, em outubro de 2014, e voltaria a ser detido em fevereiro de 2015 por não pagar uma conta num restaurante. Em janeiro desde ano, participou do Big Brother VIP (foi o primeiro a ser expulso).
Já em julho, um juiz acusou-o de abuso de poder, falsificação de documentos e suborno, por se ter feito passar por um enviado da Casa do Rei numa viagem a Ribadeo (Lugo), para organizar um almoço com um empresário. Nicolás, alegando que o monarca estaria presente, conseguiu que cortassem o trânsito e chegou ao local com uma escolta de quatro carros oficiais e motos da polícia. A acusação civil pede 11 anos de prisão, enquanto o Ministério Público alega falta de provas, e há quem diga que haverá um acordo secreto para o calar, já que os seus esquemas envolvem altas figuras do Estado.