Oposição quer referendo para derrubar Maduro

Presidente anunciou subida dos preços da gasolina e a desvalorização do bolívar. Leopoldo López diz que ditadura está no fim
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A Venezuela "amanheceu mais desvalorizada do que antes, amanheceu com a pior crise económica da sua história". As palavras foram proferidas ontem por Henrique Capriles, governador estadual de Miranda e uma das principais figuras da oposição, comentando os aumentos revelados pouco antes por Nicolás Maduro. "O atual governo, que está há quase três anos no poder, demonstrou desde a sua chegada que não conseguiu resolver um único problema dos venezuelanos", disse ontem Capriles. "É muito claro que quem manda é Maduro e isso fica demonstrado porque ele tem uma grande incapacidade de fazer frente à crise. Com Maduro não vamos superá-la."

Na opinião do governador, a solução para a crise do país passa por realizar "o mais depressa possível" um referendo revogatório contra o presidente "porque a Constituição o permite e temos a Assembleia Nacional do lado do país", disse, referindo-se ao facto de a oposição agora ter a maioria parlamentar. "Chegou o momento constitucional de revogar o mandato de Nicolás Maduro", insistiu.

A lei indica que, "transcorrido metade do período para o qual foi eleito o funcionário, um número inferior a 20% dos eleitores inscritos no círculo correspondente pode solicitar a convocação de um referendo para revogar o seu mandato".

No caso de Maduro, eleito em abril de 2013, a metade do seu mandato de seis anos é dentro de dois meses. Segundo Capriles, são precisos pouco mais de três milhões de assinaturas para convocar um referendo revogatório contra Maduro. "Nem mesmo os chavistas os querem no poder", referiu o opositor.

Nicolás Maduro anunciou ontem um aumento dos preços da gasolina e uma desvalorização de 37% do bolívar, a moeda nacional. Segundo as contas de Maduro, um litro de gasolina normal passa de 0,07 bolívares para 1 bolívar por litro (de 0,01 euros para 0,14 euros o litro à taxa de câmbio Cencoex, a principal do país) e a gasolina de 95 octanas passa de 0,097 bolívares para 6 bolívares por litro (de 0,013 euros para 0,85 euros o litro). Foi também anunciada uma desvalorização do bolívar cuja taxa principal passa de 6,30 para 10 bolívares por cada dólar norte-americano (de 6,99 para 11,1 bolívares por cada euro). O salário mínimo vai subir 20% a partir de março.

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Utopia extinta

No dia em que cumpriu dois anos preso, o opositor Leopoldo López disse ao El Mundo que "sabe que vai ser libertado" e que sairá "fortalecido e sem rancores". "Estou convencido de que o meu encarceramento valeu a pena, de que restam horas à ditadura. Estou convencido de que a Venezuela vai superar esta situação, de que podemos tirá-la do desastre a que foi submetida", afirmou na entrevista de ontem.

O polaco Lech Walesa e o costa-riquenho Óscar Arias, ambos Nobel da Paz, a par de Mpho Tutu, filha de Desmond Tutu, e Ndaba Mandela, neto de Nelson Mandela, também eles vencedores do mesmo prémio, estiveram ontem na Assembleia Nacional em Caracas numa cerimónia para marcar os dois anos de prisão de López e exigir a sua libertação, bem como a dos outros 77 presos políticos do chavismo.

"Prolongar a situação atual é prolongar uma utopia extinta e, no pior dos casos, agarrar-se ao poder pelo poder. Não há soberania nas prateleiras vazias de um supermercado", disse Arias, entre aplausos.

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