ONG portuguesa garante refeições para crianças do lar Bethel em Bissau
A organização não governamental (ONG), portuguesa a Missão Saúde para Humanidade, com sede em Aveiro, salva a vida de 48 crianças do Lar Bethel, na Guiné-Bissau. É a parceria da organização portuguesa dirigida pela enfermeira Maria José da Cunha Ferreira que está neste momento a garantir cinco refeições diariamente às crianças e aos adolescentes que vivem no Lar Bethel, em Bissau.
A Missão Saúde para Humanidade está neste momento a oferecer mensalmente 180 mil francos CFA (cerca de 27 500 euros) que permitem garantir as cinco refeições diárias às crianças que vivem no lar.
Em declaração ao DN, a diretora do Lar Bethel, a assistente social Francisca Maria da Conceição, garantiu que se não fosse a parceria com a Missão Saúde para Humanidade, as crianças estariam a viver uma situação de carência alimentar uma vez que o lar não estaria em condições financeiras de adquirir produtos alimentares para garantir às crianças as cinco refeições necessárias diariamente.
"Se não fosse a parceria com a Missão Saúde para Humanidade, hoje, com a pandemia de covid-19, não conseguiríamos garantir as cinco refeições diárias às nossas crianças. Ou seja, estaríamos a viver numa situação de autêntica carência alimentar", lamentou a brasileira Francisca Conceição, que dirige agora os destinos das 48 crianças que vivem no Lar Bethel.
Na verdade, o lar não está neste momento em condições de pagar as propinas às escolas que as crianças frequentam nem a renda dos estabelecimentos onde vivem. Com a crise económica agravada pela pandemia, o Lar Bethel está cada vez mais a acumular dividas com os seus fornecedores. Já não tem stock de géneros alimentícios e de produtos para as crianças lavarem as mãos. Por isso, a diretora reconhece que o valor que a Missão Saúde para Humanidade oferece à organização que dirige pode ser considerado menor por outras pessoas, mas para as crianças do lar é uma grande ajuda.
Francisca Conceição disse não saber, neste momento da pandemia, o que fazer para ultrapassar as enormes dificuldades financeiras que o seu lar está a atravessar. Todavia, acredita que vai encontrar os apoios financeiros necessários para liquidar as dívidas aos fornecedores que neste momento o lar está a acumular. Mas a diretora do Lar Bethel garante estar feliz pelo facto de o encerramento das escolas durante a pandemia não ter exacerbado os índices de gravidez entre as adolescentes nem a violência contra as crianças que vivem no Lar Bethel.
Mas a situação poderá agravar ainda mais no Lar Bethel numa altura em que a Guiné-Bissau é obrigada a cumprir as orientações que a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidos para a Infância (UNICEF) e a Federação Internacional da Cruz Vermelha já emitiram e que pretendem garantir, nas escolas de todo continente africano, o distanciamento físico e escalonar o início e o fim do dia escolar, cancelar os eventos que criem aglomeração, espaçar carteiras dois metros quando possível, ter as instalações de lavagem das mãos adequadas, garantir o uso de máscaras, desencorajar toques desnecessárias entre as crianças e assegurar que os alunos e os professores doentes fiquem em casa.
Todas estas orientações e recomendações estão a causar dores de cabeça à diretora do Lar Bethel, porquanto implicam a aquisição de mais materiais escolares para as crianças. "Estas orientações e recomendações internacionais que serão, com certeza, adotadas pelas autoridades da Educação da Guiné-Bissau já estão a causar dores de cabeça, porque implicam que cada uma das nossas crianças deve ter todos os materiais escolares necessários a cada disciplina para poder estar sentada na sua carteira a dois metros da outra criança de forma a não partilharem o mesmo material", lamenta ao DN Francisca Conceição, que disse não ter neste momento dinheiro para comprar todos os materiais necessárias para cada uma das disciplinas para todas as crianças do lar.
Estas orientações e recomendações da OMS, da UNICEF e da Cruz Vermelha para África já estão a criar dificuldades no inicio do ano letivo na Guiné-Bissau. As aulas, que deviam começar nesta segunda-feira, tiveram de ser adiadas, uma vez que o Governo não conseguiu reunir as condições para o arranque do ano escolar. Vai agora ser criado um grupo de trabalho que vai integrar a inspeção geral de educação, da saúde pública e do Alto Comissariado que terá como missão principal o acompanhamento e a fiscalização permanente do funcionamento das aulas e fazer respeitar as recomendações ou medidas de prevenção e combate à covid-19 em todas as instituições escolares do país. O Ministério da Educação está a contactar os parceiros e o próprio Governo para assegurar também a colocação de materiais de proteção e produtos de higiene nas escolas privadas que tinham sido excluídas.
A UNICEF já garantiu à Direção-Geral do Ensino Básico e Secundário financiar 600 mil mascaras e 1500 termómetros, que serão distribuídos em todas as escolas públicas do país. Segundo a diretora-geral do Ensino Básico e Secundária, Alanam Pereira, a aquisição de detergente e lixívia para lavagem das mãos e das escolas públicas da Guiné-Bissau também está garantida.
Por outro lado, o ministro da Educação Nacional e Ensino Superior, Arsénio Jibril Baldé, já contactou uma empresa que opera no país na área de montagem de equipamentos de álcool-gel nas instalações públicas e privadas no âmbito do combate à covid.
As escolas privadas não veem com bons olhos o apoio do Governo somente às escolas públicas como se não existissem no país escolas privadas. E recordam ao Governo que nos últimos cinco anos as escolas públicas praticamente não funcionaram no país em virtude das sucessivas greves dos professores devido ao atraso no pagamento de salários e da permanente queda dos governos na Guiné-Bissau. E foram as escolas privadas que asseguraram praticamente o ensino básico e secundário em quase todo o território nacional. Por outro lado, as escolas privadas garantem que pagam impostos ao Estado, por isso deveriam também receber o apoio do Governo e do Alto Comissariado de Luta contra a Covid-19 para poderem iniciar igualmente as aulas de forma segura.
Uma das exigências da comunidade educativa é que este setor mereça a mesma atenção por parte das autoridades de Bissau que está a ser dada à reabertura ao turismo e a outros negócios.