OMS volta atrás após polémica. Mugabe já não vai ser embaixador da boa vontade

A nomeação estava a gerar indignação entre a oposição do Zimbabué, ativistas e comunidade internacional. "Surpreendente e dececionante", consideraram o Reino Unido e os EUA
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O Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou atrás e desistiu da intenção de ter Robert Mugabe como embaixador da boa vontade. A decisão foi anunciada hoje, após uma onda de críticas e indignação devido a esta escolha.

O diretor-geral da OMS, que já anunciara ontem estar a repensar a nomeação do Presidente do Zimbabué para aquele papel, anunciou hoje que decidiu cancelar a nomeação após ter ouvido os argumentos daqueles que estavam preocupados.

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No comunicado publicado no site da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus explica que também ouviu o Governo do Zimbabué, tendo concluído que "esta decisão é a melhor para os interesses da OMS".

Afirmando ter por missão "construir um movimento mundial para a saúde global", defende que "este movimento deve trabalhar para todos e incluir todos", assumindo a prioridade de "criar uma unidade em torno da saúde para todos".

A organização especializada da ONU, dirigida desde julho pelo antigo ministro da Saúde da Etiópia Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu a Mugabe, de 93 anos, para ser embaixador da boa vontade e promover a luta contra doenças não transmissíveis em África.

A nomeação, conhecida esta semana, suscitou críticas e indignação, com a oposição do seu país a apontar que o sistema de saúde do Zimbabué colapsou durante o regime autoritário de Mugabe, que está no poder desde 1980.

O Reino Unido, antiga potência colonial, juntou-se ontem às críticas, considerando a decisão da OMS "surpreendente e dececionante, em particular à luz das sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra ele".

Os Estados Unidos consideraram a escolha igualmente "dececionante".

"Esta nomeação contradiz claramente os ideais das Nações Unidas de respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana", afirmou o Departamento de Estado.

O ativista e defensor dos direitos humanos no Zimbabué Doug Coltart escreveu no Twitter: "Um homem que apanha o avião para Singapura para tratamento médico porque destruiu o sistema de saúde do Zimbabué é embaixador da boa vontade da OMS".

O sistema de saúde no Zimbabué, como muitos outros serviços públicos, entrou em colapso com o regime de Mugabe. A maior parte dos hospitais tem falta de medicamentos e equipamentos, enfermeiros e médicos ficam muitas vezes sem salários.

Iain Levine, um dos diretores da organização não-governamental Human Rights Watch apontou a escolha como "embaraçosa" para a OMS e para o seu diretor-geral.

No Zimbabué, o principal partido da oposição, MDC, considerou a nomeação "ridícula".

"O sistema de saúde do Zimbabué está num estado caótico, é um insulto", declarou à AFP um porta-voz do partido, Obert Gutu.

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