Obama vs. Trump: o que um diz, o outro desdiz
No final do ano, Donald Trump acusou Barack Obama de fazer declarações "inflamadas" e de dificultar o processo de transferência de poder. "Estou a fazer o meu melhor para ignorar os muitos obstáculos e declarações inflamadas do presidente. Pensei que a transição seria suave. Mas não!", tuitou o presidente eleito no dia 28. Mas a verdade é que o republicano também tem contribuído com a sua quota-parte de declarações inflamadas.
Um dos temas em que o presidente e o presidente eleito mais discordam é a interferência da Rússia nas eleições. "Todos os americanos devem estar alarmados pelas ações da Rússia", declarou Obama no dia 29, a par do anúncio da expulsão de 35 diplomatas russos.
Ontem, Trump, que tem rejeitado a ingerência russa, voltou a falar no tema. "O briefing da "inteligência" sobre o chamado "hacking russo" foi adiado para sexta-feira, talvez precisem de mais tempo para montar o caso. Muito estranho!", tuitou. E apoiou Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, que ontem garantiu que a Rússia não foi a fonte da fuga de e-mails do Partido Democrata.
A transferência de detidos de Guantánamo - um dos objetivos de Obama, tendo em conta que não conseguiu fechá-lo - é outro dos pontos de discórdia. Na terça-feira, a Casa Branca anunciou que "informou o Congresso que irá transferir até 19 detidos de Guantánamo antes de o presidente cessar funções". "Não devem ocorrer mais libertações de Gitmo. São pessoas extremamente perigosas e não lhes deve ser permitido voltarem ao campo de batalha", escreveu Trump.
A relação com Israel é uma das que Trump já deixou claro que será oposta à de Obama. A prova disso foi dada quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução a pedir o fim da expansão dos colonatos na Cisjordânia. Por decisão de Obama, os EUA optaram por uma abstenção histórica. "Mantém-te forte, Israel, 20 de janeiro aproxima-se a grande velocidade", respondeu Trump.
Até o resultado nas presidenciais levou a desentendimentos. Numa entrevista dada no dia 26 a David Axelrod, seu antigo conselheiro, Barack Obama garantiu que se tivesse ido a votos contra Donald Trump teria conseguido um terceiro mandato. "Teria conseguido mobilizar uma maioria do povo americano", disse. Não tardou muito para que o republicano respondesse: "O presidente Obama diz que acha que teria ganho contra mim. Ele deve dizer isso mas eu digo nem pensar!"
O próximo capítulo deste confronto está marcado para a próxima semana: Obama faz o seu discurso de despedida na terça-feira, ontem Trump anunciou que dará no dia seguinte uma conferência de imprensa sobre "assuntos gerais".