Obama na Grécia para discurso histórico e pedido de alívio da dívida
É a última viagem do presidente cessante. Visita a Grécia, para um discurso importante, Alemanha e Peru
Será a última deslocação diplomática significativa de Barack Obama ao estrangeiro. Começa amanhã em Atenas, onde se encontra com o primeiro-ministro Alexis Tsipras e proferirá um discurso sobre democracia e globalização. Em seguida, viaja para Berlim, onde se reunirá com a chanceler Angela Merkel, com o futuro da União Europeia, a questão dos refugiados, da NATO e da Parceria Transatlântica na agenda.
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Finalmente, voa até ao Peru Para a cimeira da APEC, onde estará no centro das discussões sobre uma maior integração económica e onde terá encontros bilaterais com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro Malcolm Turnbull, não sendo de excluir ainda outros contactos da mesma natureza. Tudo isto, tendo como pano de fundo, ao longo dos seis dias da viagem, a sombra do presidente eleito, o republicano Donald Trump.
Na Grécia, segundo fontes da Casa Branca citadas pelos media helénicos, o presidente cessante irá proferir um discurso apresentado como a súmula do seu "legado". As mesmas fontes referiram que será algo equivalente ao proferido por J. F. Kennedy em Berlim, em 1962.
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Nos encontros oficiais, Obama, como já deixou claro numa entrevista publicada ontem na edição inglesa do diário Kathimerini, defenderá a necessidade de "um significativo alívio da dívida", com os credores a tomarem as medidas necessárias para o país "regressar ao crescimento". As "pessoas precisam de esperança", salientou o presidente que, por exemplo no início de 2015, defendeu a posição do governo de Atenas, afirmando que "há limites para as pressões dos credores europeus". Posição que reafirmou na presente entrevista, em que elogia a atuação do atual executivo de Tsipras e as "medidas dolorosas" tomadas. Obama sublinha, contudo, que "muito está ainda para fazer" de modo a serem evitados os "desequilíbrios do passado".
Na entrevista ao jornal grego, Obama notou que este país tem sido "generoso" para com as sucessivas vagas de refugiados e destacou o facto de ser "um dos cinco" Estados membros da Aliança Atlântica que cumpre o objetivo de consagrar 2% do seu PIB ao orçamento da Defesa. E destacou que a União Europeia e a NATO "são forças extraordinárias de paz e estabilidade" e que "se deve resistir" a tentações isolacionistas, numa referência óbvia à retórica de Donald Trump na campanha.
Outras declarações de Trump, em especial sobre a NATO, não deixarão de ser tidas em conta na passagem de Obama pela capital alemã. A questão dos 2% do PIB para a Defesa, cujo incumprimento Trump considera um "aproveitamento" dos membros da Aliança, e o classificá-la como uma "entidade obsoleta" foram afirmações que tiveram o condão de irritar o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, que durante a campanha comparara Trump a "um pregador do ódio". Após a eleição do republicano, Steinmeier insistiu na importância das relações entre a Europa e os EUA, "que é o mesmo que falar dos pilares do Ocidente". Mas admitiu que a política externa de Washington se vai tornar "menos previsível" e irá "tomar decisões de forma imprevisível". O que pode ter repercussões em vários planos, desde logo no conflito na Ucrânia, onde EUA e Alemanha têm estado até agora do mesmo lado.
A importância da passagem por Berlim avalia-se pelo facto de Obama, além de um encontro de trabalho com a chanceler, jantar em seguida com ela na companhia de Theresa May, François Hollande e Matteo Renzi. O facto de chegar em janeiro à Casa Branca um presidente aparentemente pouco preocupado com a Europa e crítico da Parceria Transatlântica, ainda em negociação, é justificação para este encontro por si só.
Finalmente, em Lima, dos temas da cimeira da APEC, o da integração económica regional será o que concentrará as principais atenções. Com vários processos de integração e reforço da cooperação económica, envolvendo a ASEAN, o Japão, a China e os EUA, as declarações de Trump sobre a renegociação destes e outros acordos, levantará muitas preocupações entre os dirigentes presentes.