O que disseram Juncker e Tusk a Bolsonaro?
Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu já felicitaram Jair Bolsonaro, mas lembram que o respeito pelos "direitos humanos" são questões "de interesse comum", na parceria estratégica "de longa data".
Na curta mensagem enviada no dia a seguir às eleições brasileiras, mas que tem permanecido num invulgar segredo, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk felicitam Bolsonaro "em nome da União Europeia", depois deste ter sido vencedor na segunda volta das eleições presidenciais no Brasil.
No mais longo dos quatro curtíssimos parágrafos, Tusk e Juncker recordam a Bolsonaro que "a UE e o Brasil têm uma parceria estratégica de longa data, que ajudou a desenvolver ampla cooperação em questões bilaterais e multilaterais de interesse comum".
Ainda no mesmo parágrafo, os dois presidentes destacam "o comércio, a ciência e tecnologia, a sociedade da informação, a energia, e proteção ambiental", como elementos chave da "ampla cooperação" sem deixar de se referir igualmente às questões dos "direitos humanos", mas também da "defesa e da segurança".
Um dos temas mais sensíveis é a relação comercial entre a Europa e a América do Sul. O presidente eleito do Brasil já deixou entender que o Mercosul não será uma das suas prioridades. Porém, na carta de felicitações, Bruxelas destaca a importância do Acordo de Associação existente entre as duas regiões.
"Estamos preparados para continuar e reforçar esta parceria durante a sua presidência em benefício dos nossos cidadãos, inclusive no contexto das negociações em curso sobre o Acordo de Associação UE-MERCOSUL", lê-se na carta enviada ao presidente eleito do Brasil, datada de 31 de Outubro, embora apenas hoje os serviços de imprensa da Comissão e do Conselho tenham libertado o documento para ser consultado pelos correspondentes em Bruxelas.
Na carta, Juncker e Tusk desejam ainda "tudo de melhor" para Jair Bolsonaro "nas novas funções", com quem espera poder trabalhar. "Esperamos trabalhar consigo", afirmam.
Na segunda-feira, a seguir às eleições brasileiras, a porta-voz da Comissão Europeia Natasha Bertaud remeteu uma reação oficial à vitória de Bolsonaro, para a carta que, então, seria enviada "em breve".
Na altura afirmou que a Comissão Europeia espera que Bolsonaro "trabalhe para consolidar a democracia".
"O Brasil é um país democrático, com instituições sólidas e nós esperamos que qualquer futuro presidente do país trabalhe para consolidar a democracia em benefício do povo brasileiro", defendeu a porta-voz, esperando que o "procedimento padrão" de felicitar um presidente eleito "por carta" se mantenha também no caso de Bolsonaro.
Questionada sobre se a carta incluiria alguma referência ou crítica ao futuro presidente do Brasil, pelo discurso que lhe é conhecido em matéria de direitos humanos, a porta-voz foi evasiva, preferindo "não antecipar juízos de valor sobre o conteúdo" da carta.
Naquela altura, a porta-voz demarcou a Comissão das declarações feitas pelos comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, que numa entrevista ao equivalente francês do Canal Parlamento, a televisão Public Sénat, tinha classificado Bolsonaro como "um populista de extrema-direita".
"Atrás dele, vemos a sombra dos militares que durante muito tempo estiveram no poder no Brasil, constituindo uma ditadura terrível - ele próprio um antigo militar", frisou o comissário francês, identificando uma tendência para as democracias liberais retrocederem.
"É um fenómeno que está talvez ligado a uma forma de cansaço democrático, sobre a qual aqueles que têm a democracia no coração deveriam refletir, de modo a organizar um contra-ataque", disse.
A porta-voz da Comissão Europeia disse que os comissários "são livres para manifestarem as suas posições", mas demarcando a Comissão de tais afirmações, disse que a posição oficial seria "assinada pelos dois presidentes [Tusk e Juncker]".