O "milagre português em suspenso" face à covid em destaque no Le Monde
É com o caso de Ovar, que o Le Monde começa a sua mais recente reportagem sobre "o milagre" português na luta contra a covid-19. Um milagre "em suspenso", segundo o diário francês que se sublinha o sucesso face à doença, lembra que a crise económica que aí vem pode ser pior do que a crise sanitária.
Mas voltando a Ovar, o Le Monde destaca que antes da pandemia, a cidade era mais conhecida "pelos azulejos azuis e brancos, pelo bolo em forma de cake [o famoso pão de ló], as praias ou as fábricas de peças para automóveis", mas com a covid chegou a necessidade de estabelecer uma cerca sanitária que colocou Ovar em todas as notícias.
Para o artigo intitulado "Face ao coronavírus, o milagre português em suspenso", o diário foi falar com Salvador Malheiro, o presidente da Câmara cujo "francês perfeito adquirido durante os estudos em França nos anos 90" elogia e para o qual "este foi o desafio das nossas vidas".
"Ovar tornou-se no símbolo de um Portugaal que se bateu contra a covid-19 com os meios, decerto limitados, mas que, graças à sua seriedade e à sua persistência, obteve resultados que o colocam entre os melhores da Europa. Número de mortos em relaação à população total? 1500 vítimas para 10 milhões de habitantes. Está mais próximo da Alemanha do que se França ou Espanha", escreve Christophe Ayad.
Quanto ao segredo para este "milagre", o Le Monde sublinha que cada cabeça tem a sua sentença - e a sua teoria. Uns garante que foi a vacina da BCG, outros a vitamina D favorecida pelo sol e uma alimentação rica em peixe, outros a fraca taxa de idosos internados em lares. Também o facto de o vírus ter aqui chegado duas semanas depois de a Itália, o que "permitiu ao governo aplicar à letra a recomenda da OMS: 'testar, testar, testar'".
E António Mega Ferreira até encontra uma explicação histórica para o sucesso português. "Somos com certeza o único país em que a populaçãoteve mais medo do que o governo e se confinou antes mesmo de lhe pediram para tal", garante o escritor, que esteve à frente da Expo 98, antes de acrescentar: "É talvez porque não sofremos uma guerra desde 1828".
Mas o jornal não deixa de falar no receio da crise que aí vem, dando o exemplo de Carlos Lopes e Filippa Ribeiro cujas dificuldades para pagar uma renda de 800 euros são apenas um exemplo das dificuldades que classe média portuguesa enfrenta.
A resposta portuguesa tem merecido elogios da imprensa internacional, da CNN ao Financial Times, passando pelo El País ou Der Spiegel e ainda no fim de semana o The Sunday Times tinha um artigo no qual saudava os "céus azuis, cerveja gelada, praias de areia e nenhum turista".
Assinado por Christina Lamb, correspondente internacional do The Sunday Times e casada com um português, o artigo garante que "Portugal é como o paraíso e estou muito feliz [a expressão em inglês é "happy as a clam", literalmente".