Número de polícias candidatos a políticos dispara após Lava-Jato

Agentes querem aproveitar boa imagem da instituição para trocar de profissão. Entre os prováveis concorrentes a deputados em 2018 estão dois dos polícias mais famosos do país
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A Operação Lava-Jato tem protagonistas, antagonistas e atores secundários: entre estes, os agentes da polícia conhecidos como Japonês da Federal e Hipster da Federal chegaram a atingir o estatuto de celebridade no Brasil. O primeiro, que se tornou famoso por aparecer ao lado dos presos mais mediáticos da operação, está a ser convencido por amigos a concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados em 2018. O segundo, que fez furor ao levar para a cadeia o ex-deputado Eduardo Cunha, já tomou a decisão de se candidatar.

Da mesma forma que a política brasileira entrou em total descrédito após a Lava-Jato, que já levou para a cadeia dezenas de políticos dos principais partidos do país, a polícia subiu a pique na consideração do povo. Ao lado da Igreja e dos bombeiros, é a instituição mais confiável entre 20 entidades colocadas sob votação em pesquisa de opinião recente do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). É para surfar nessa onda que muitos agentes espalhados pelo Brasil planeiam trocar de carreira e concorrer a deputados estaduais ou federais nas eleições de 2018 - a maioria deles surgirá nos boletins de voto com referência à profissão para seduzir o eleitorado, como são os casos dos delegados Francischini e Gastão e do delegado federal Mikalovski.

Contactada pelo jornal Folha de S. Paulo, a Federação Nacional dos Polícias Federais (Fenapef) contabilizou 24 pré-candidatos ligados à instituição em 18 estados do país. Mas um levantamento do jornal registou mais de 30. Caso sejam eleitos, esses polícias políticos aumentarão o número já hoje expressivo de ex-agentes espalhados pelos parlamentos locais e federal do Brasil - segundo a BBC Brasil, nas eleições gerais de 2014, 55 cadeiras das assembleias estaduais e da Câmara dos Deputados passaram a ser ocupadas por ex-polícias, um aumento de 25% face a 2010, quando foram eleitos 44 ex-membros da Polícia Federal.

Como prova de que é a Lava-Jato que vem fazendo crescer o interesse dos agentes na carreira política está o facto de ser no Paraná, berço da megaoperação, que a moda mais se nota, com cinco pré-candidatos polícias já definidos.

A Fenapef, sindicato que representa as carreiras ligadas à Polícia Federal, estimula as candidaturas: são elementos da sua cúpula que estão a tentar convencer Newton Ishii, o Japonês da Federal, a concorrer a uma vaga no Parlamento em Brasília. Para tal, já consultaram dois escritórios de advogados especializados em legislação eleitoral para saber se Ishii está em condições legais de concorrer - o agente foi condenado no ano passado, em última instância, por favorecimento ao contrabando e acabou a usar uma tornozeleira (pulseira) eletrónica, como tantos dos presos famosos que ele conduziu à prisão. Já Lucas Valença, que causou impacto pelo visual da moda - coque no topo da cabeça ao estilo samurai mais barba cerrada - e ganhou a alcunha de Hipster da Federal (ou Lenhador da Federal) está disposto a concorrer. Ainda não se conhecem detalhes, como partido ou programa político.

A julgar pelos precedentes, Valença, Ishii e os outros candidatos devem aumentar as bancadas da bala espalhadas pelo Brasil, isto é, os grupos suprapartidários que focam a sua atividade na segurança, defendendo o uso de armas pelos cidadãos, o agravamento das penas para criminosos que ataquem agentes e a diminuição da idade penal.

O major Olímpio, deputado federal pelo SD e ex-polícia mais em foco no Parlamento, é um dos líderes da causa. "Só em São Paulo, familiares e amigos de polícias podem formar um grupo de 1,6 milhões de eleitores, se os religiosos se juntam para eleger alguém do seu grupo, se os sindicalistas se juntam, se os empresários se juntam, por que não nós?", pergunta o parlamentar que votou quer pelo afastamento de Dilma Rousseff, em 2016, quer pela investigação a Michel Temer, já neste ano.

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