Noiva de Khashoggi e o dia da sua morte: "Ia derrubar a última barreira para nos casarmos"

Em entrevista, noiva do jornalista assassinado no consulado da Arábia Saudita reafirma suspeitas quanto à responsabilidade das altas esferas sauditas no crime.
Publicado a
Atualizado a

"O dia 2 de outubro era um grande dia. Significava derrubar a última barreira para nos casarmos." A frase é de Hatice Cengiz, a turca de 37 anos que se encontrava noiva de Jamal Khashoggi, sobre o dia em que o jornalista saudita exilado nos Estados Unidos e colunista do Washington Post foi assassinado.

Em entrevista ao El Mundo, em Istambul, explica que tinha convencido o pai, conservador, a não se opor ao matrimónio com Khashoggi, de 61 anos, devido à diferença de idades. "Era um dia muito importante para os dois. Jamal foi ao consulado precisamente para recolher um documento que certificava não haver qualquer obstáculo para celebrar o nosso casamento. Estávamos no meio das formalidades de um casal prestes a comprometer-se."

Sobre a forma como está a lidar com os acontecimentos, afirma que sem saber do cadáver "a história não acaba e muito menos o sofrimento pessoal". Conclui: "É difícil viver sem ele."

Quase meio ano depois da morte do crítico do príncipe saudita Mohamed bin Salman", diz: "Já passou algum tempo, mas parece que aconteceu ontem. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Foi muito difícil levantar-me todos os dias com a notícia do seu assassínio a abrir os noticiários. Apenas agora é que começo a pensar. A trabalhar no luto. A ser capaz de perceber o que aconteceu. Antes havia muito ruído à volta."

E que pensa agora Hatice Cengiz? "Continuamos com um morto, sem corpo e sem culpados. É uma prova de que os sauditas não estão a cooperar e que fazem o possível para o encobrir. Não acredito que a Arábia Saudita esteja disposta a esclarecer este crime."

Questionada se o país do Golfo patrocina terrorismo de Estado, responde: "No Médio Oriente não é fácil ter respostas claras para tudo. Mesmo com todos os dados nas mãos. Sou sincera e otimista. Temos de esperar até ao fim da investigação. Acredito que o tempo proporciona sempre justiça."

No entanto, Hatice Cengiz critica a investigação "insuficiente" levada a cabo pelas Nações Unidas, "uma organização muito fraca", e também a União Europeia: "Gabam-se dos valores da União Europeia, mas depois as suas políticas não têm qualquer relação."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt