Nobel da Paz entre liberdade de expressão, o nuclear, a Síria e os refugiados

São apontados nove favoritos a chamar a atenção para conflitos, crises e tensões atuais. Mas há sempre espaço para surpresas.

É conhecido hoje o Prémio Nobel da Paz. Dados como favoritos são os protagonistas do acordo sobre o nuclear iraniano, a agência das Nações Unidas para os refugiados, defensores da liberdade de expressão em diferentes países, a proteção civil síria, mais conhecida como "capacetes brancos", isto num total de 215 personalidades e 103 organizações nomeadas este ano. Algumas delas já o foram no passado, como o médico congolês Denis Mukwege, designado em três ocasiões pelo trabalho com as mulheres vítimas da violência e abusos sexuais no Congo.

O acordo sobre o nuclear iraniano é apontado como grande favorito, sugerindo-se que o comité Nobel norueguês designe o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, e a alta responsável da política externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, para o prémio. Ainda que envolvendo os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, o diretor do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (PRIO, na sigla em inglês), Henrik Urdal, considera que Mogherini e Zarif merecem principalmente a distinção. A diplomata da UE por ter sido este o "primeiro caso de um conflito resolvido com sucesso desde a criação do posto de alto responsável [da política externa da UE] em 2009"; e o ministro iraniano por mostrar a vontade do seu país em encontrar uma solução negociada para o diferendo que opunha Teerão à UE e aos EUA. A escolha do acordo sobre o nuclear iraniano teria ainda o mérito de chamar a atenção para os riscos da proliferação, num momento em que a Coreia do Norte multiplica ensaios nucleares subterrâneos e disparos de mísseis balísticos.

A opinião de Urdal foi expressa num comunicado do PRIO em que sugere para o prémio, em alternativa, o Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR, distinguido em 1954 e 1981) e o seu responsável, Filippo Grandi, como forma de sublinhar "o nível sem precedentes de pessoas deslocadas" no mundo. Uma perspetiva subscrita por Asle Sveen, historiador do Nobel da Paz e um dos autores do blogue Nobeliana. Urdal sugere ainda a proteção civil síria, destacando a sua atuação no meio de uma guerra civil de mais de seis anos, em que "conseguem salvar vidas, reduzir o sofrimento humano e manter vivo um raio de esperança".

Sveen e Urdal apontam outros possíveis laureados, agora no plano da liberdade de expressão. Aqui, o diretor do PRIO privilegia o jornal turco Cumhuriyet e Can Dündar, seu responsável editorial, hoje exilado na Alemanha para evitar a prisão. Neste caso estar-se-ia a sublinhar a importância da "liberdade de expressão" no combate ao "inaceitável desmantelamento da democracia secular na Turquia pelo regime de Erdogan". Por seu turno, Sveen prefere destacar um jornal russo, Novaya Gazeta, e uma ativista dos direitos humanos, Svetlana Gannuskhina, já nomeada em 2012. Para o autor do Nobeliana seria importante para o futuro da liberdade de imprensa e de opinião na Rússia, onde o poder político tem vindo a silenciar qualquer forma de oposição. Ainda o mesmo autor sugere o blogger saudita Raif Badawi, ativista dos direitos humanos, já distinguido com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu. Condenado a pena de prisão e a mil chicotadas (entretanto suspensas) Badawi tem chamado a atenção para a situação do seu país e para a intervenção de Riade na guerra civil no Iémen. Sveen cita ainda um nome surgido em anos anteriores, Denis Mukwege, médico da República Democrática do Congo, já distinguido com o Prémio Sakharov, pelo tratamento de mulheres vítimas de violações, enquanto o diretor do PRIO inclui, como escolha imprevista, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "pelo sucesso na conjugação de esforços diplomáticos e a perspetiva do uso da força" na resolução da crise política de dezembro de 2016 - janeiro de 2017 na Gâmbia. O diretor do PRIO considera ainda que a CEDEAO é exemplo de como "uma maior interação política e económica contribui para a estabilidade regional a longo prazo".

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