Myanmar vai realojar 6.000 'rohingyas'
Myanmar assumiu hoje um acordo com o Bangladesh para realojar mais de 6.000 muçulmanos 'rohingya' que permanecem em acampamentos na fronteira entre os dois países, depois de terem fugido à onda de violência no estado de Rakhine.
Este compromisso inscreve-se no acordo assinado entre os dois países em 23 de novembro do ano passado para, num prazo de dois meses, proceder ao repatriamento de cerca de 700.000 'rohingyas', refugiados desde agosto na fronteira com o Bangladesh depois dos assassínios em massa alegadamente perpetrados pelas forças de segurança de Myanmar (antiga Birmânia).
O acordo agora celebrado entre Myanmar e Bangladesh contempla apenas o realojamento de 6.000 'rohingyas', uma vez que o repatriamento de centenas de milhares de outros foi adiado devido a preocupações com a segurança no retorno a território da antiga Birmânia.
Os mais de 680.000 'rohingyas' fugiram para a fronteira de Tombru na tentativa de entrar no Bangladesh, mas as autoridades deste país vizinho de Myanmar negaram-lhes a entrada.
Um responsável do Bangladesh pelos refugiados, Abul Kalam, disse que os 'rohingyas' estão a ser encorajados a voltarem voluntariamente para Myanmar.
"Os refugiados disseram-nos que queriam regressar e reocupar as duas casas. Pressionámos as autoridades de Myanmar para a criação de uma atmosfera segura e agradável para o realojamento. Myanmar concordou em assumir essa responsabilidade", disse Kalam.
Na passada sexta-feira, o ministro do Interior do Bangladesh, Jader Khan, forneceu uma lista de 8.032 refugiados 'rohingya' ao seu homólogo de Myanmar para se iniciar as repatriações, acabando os dois países por concordar em transferir 6.000 pessoas.
O atual êxodo dos 'rohingyas' teve início em meados de agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército de Myanmar contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.
Esta campanha de repressão do exército birmanês já foi classificada pela ONU como uma limpeza étnica e como uma das crises humanitárias mais graves do início do século XXI.
O Estado birmanês não reconhece esta minoria e impõe múltiplas restrições aos 'rohingyas', nomeadamente a liberdade de movimentos.
Desde que a nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982, os 'rohingyas' têm sido submetidos a muitas restrições: não podem viajar ou casar sem autorização, não têm acesso ao mercado de trabalho, nem aos serviços públicos (escolas e hospitais).
Esta crise desencadeou uma vaga de críticas à líder de facto de Myanmar, Aung San Suu Kyi.
A Nobel da Paz (1991) foi acusada de ter esquecido os Direitos Humanos e de ter minimizado a situação denunciada pelas vítimas.