Museu ou mesquita? Tribunal vai decidir futuro da Hagia Sophia
O mais alto tribunal turco vai decidir se a Hagia Sophia, um dos mais emblemáticos monumentos de Istambul, deve continuar a ser um museu ou se deve ser transformada numa mesquita. Uma decisão que será conhecida dentro de duas semanas e que poderá reacender velhas tensões com o Ocidente.
O Conselho de Estado está a analisar uma queixa apresentada por uma ONG turca, a Associação para a Proteção dos Monumentos Históricos e do Ambiente.
Classificada como Património Mundial pela UNESCO, a Hagia Sophia é um edifício com seis séculos que desde 1935 tem funcionado como museu e recebido visitantes de todas as fés.
Apesar de protestos ocasionais de grupos islamistas no exterior, cujos apoiantes gritam "Deixem cair as correntes e libertem a Hagia Sophia para os crentes muçulmanos", as autoridades têm optado por manter o monumento, verdadeira atração turística, como museu.
Construída primeiro como catedral durante o Império Bizantino no século VI, a Hagia Sophia foi convertida em mesquita após a conquista de Constantinopla (como se chamava então Istambul) pelos otomanos em 1453.
Transformá-la em museu foi uma das decisões simbólicas tomadas pelo pai da Turquia moderna e laica, Mustafa Kemal Ataturk, após a queda do império Otomano.
Os apelos para que volte a ser uma mesquita têm gerado indignação entre os cristãos e intensificado as tensões entre Turquia e Grécia - os inimigos históricos, agora aliados na NATO.
Desde 2005 tem havido várias tentativas de mudar o estatuto do edifício. Um apelo a que voltasse a funcionar como mesquita foi rejeitado em 2018 pelo Tribunal Constitucional.
Em junho, o presidente Recep Tayyip Erdogan garantiu que o futuro da Hagia Sophia deve ser decidido pela mais alta instância judicial turca, o Danistay. "Os passos necessários serão tomados depois do veredicto", afirmou o presidente.
Mas Erdogan também garantiu ter sido "um erro grave" converter a Hagia Sophia em museu.
"A decisão do Danistay vai ser política. Seja qual for a decisão vai refletir os desejos do governo", garantiu à AFP Asli Aydintasbas, do European Council on Foreign Relations. Mas a especialista admite que Erdogan não irá agir de ânimo leve, sem pensar primeiro nas relações com a Grécia, a União Europeia e os EUA para as quais "a religião é importante".
Já Anthony Snikker, da empresa de gestão de risco Verisk Maplecroft, garante que reconverter a Hagia Sophia em mesquita seria para Erdogan como "matar dois coelhos com uma cajadada só" - agradaria à sua base islamita e nacionalista, reforçando as tensões com a Grécia, enquanto mostrava a Turquia como uma grande potência. "Erdogan não poderia encontrar um símbolo mais forte do que a Hagia Sophia para conquistar todos estes objetivos", explicou.
O líder turco tem feito questão nos últimos anos de enaltecer a derrota do império Bizantino pelos Otomanos.