Mulher, negra, escritora. Stacey Abrams vai dar a resposta democrata a Trump
A ex-candidata a governadora da Georgia foi escolhida pelo Partido Democrata para dar a resposta ao discurso do Estado da União do presidente
Neste ano, a resposta ao discurso do Estado da União de Donald Trump caberá a Stacey Abrams. Estrela em ascensão no Partido Democrata, Abrams perdeu em novembro a corrida para governadora da Georgia, numa eleição disputadíssima e após várias recontagens.
Primeira mulher negra a dar a resposta a um Estado da União, Abrams disse-se "honrada" com a escolha do partido. "Numa altura em que a nossa nação precisa de líderes capazes de unir o povo num propósito comum, sinto-me honrada por dar a resposta democrata ao Estado da União", escreveu no Twitter.
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Ao escolherem Stacey Abrams, de 45 anos, os democratas deixam uma mensagem clara: preferem apelar ao setor mais à esquerda do seu eleitorado - jovem, diverso, feminino -, esse mesmo que lhes deu a vitória na Câmara dos Representantes em novembro, do que piscar o olho a um eleitorado de centro, mais moderado.
Advogada de profissão (formada na prestigiada Universidade de Yale), escritora - publicou oito novelas de suspense romântico sob o pseudónimo Selena Montgomery -, Abrams foi a líder da minoria democrata na Câmara dos Representes do Congresso estadual da Georgia.
Foi com um programa assumidamente progressista que Abrams se apresentou na corrida a governadora de um estado tradicionalmente conservador. Mas perdeu, apesar de ter mais 15 pontos do que o rival republicano no que se refere à popularidade.
Criada numa família com mais cinco irmãos, numa localidade pobre do Mississípi rural, Abrams sentiu na pele a dificuldade dos pais para pagarem o tratamento do seu pai, doente com cancro. Os problemas financeiros prolongaram-se pela sua vida adulta, com Abrams a admitir na suas memórias ter tido algumas dívidas às finanças devido ao atraso no pagamento do empréstimo que contraiu para pagar os estudos.
A própria Abrams decidiu dar uma volta à sua vida quando tinha 18 anos. Depois de um desgosto de amor, foi ao computador e traçou um plano pormenorizado para a sua vida nos próximos 40 anos. Um plano que incluía escrever uma novela romântica antes dos 24 anos. Só o conseguiu aos 28, com a história de uma adolescente em fuga e um cientista forense que se encontram numa casa com mais de cem cadáveres. Até aos 30 previa tornar-se milionária e antes dos 35 ser eleita mayor de Atlanta. Chegou a fundar duas empresas mas não enriqueceu. E nunca foi candidata à Câmara de Atlanta.
Honra para as estrelas em ascensão
Dar a resposta ao Estado da União é uma honra que cabe muitas vezes a estrelas em ascensão nos partidos. Em 2018 ficou a cargo do congressista do Massachusetts Joe Kennedy III, sobrinho-neto do presidente John Kennedy.
Mas, se dar esta resposta garante exposição mediática, nem sempre acaba bem. Em 2013, a escolha dos republicanos para responder a Obama recaiu sobre o senador da Florida, Marco Rubio. E se, além da versão em inglês, este, filho de imigrantes cubanos, também fez a versão em espanhol, ficou na memória dos americanos sobretudo por ter interrompido o discurso para beber água de uma garrafa de plástico. É verdade que entretanto se reabilitou, tendo sido candidato às presidenciais em 2016 e tendo hoje um lugar de destaque no Senado.
Pior acabou Bob McDonnell. O ex-governador da Virgínia foi o escolhido para a resposta republicana em 2010. Mas o político promissor acabou detido quatro anos depois e condenado a dois anos de prisão por corrupção.
O futuro de Stacey Abrams, no entanto, é uma incógnita. Mas para já, ao saber da sua escolha para lhe responder, Trump garantiu: "Respeito-a." Palavras que contrastam com as que proferiu em novembro quando considerou a então candidata a governadora "sem qualquer qualificação", tendo afirmado: "Olhem para o seu passado, olhem para a sua história."