Merkel rejeita acusações da Turquia e critica "atentados à liberdade de imprensa"
Chanceler alemã rejeitou ainda as críticas da Turquia, que acusou Berlim de envolvimento nas tentativas para derrubar o presidente turco
A chanceler alemã Angela Merkel reiterou hoje as críticas do seu Governo sobre os atentados à liberdade de expressão na Turquia, e rejeitou as acusações de Ancara após a anulação de comícios pró-Erdogan na Alemanha.
"Na Alemanha existe em termos legais um sistema federal. As comunas possuem competências, as regiões possuem competências, as regiões [länder] possuem competências, e o Estado federal possui competências. No que respeita à organização de eventos, as autorizações são decididas a nível comunal", referiu no decurso de uma deslocação à Tunísia.
Ancara acusou hoje Berlim de envolvimento nas tentativas para derrotar o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan no referendo de abril sobre o reforço dos seus poderes, após a anulação de dois comícios de apoio na Alemanha e onde deveriam participar ministros turcos.
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Em paralelo, Merkel denunciou os atentados à liberdade de imprensa na Turquia, em particular no caso do correspondente na Turquia do diário Die Welt, Deniz Yücel, detido por propaganda "terrorista".
"Para nós é uma questão de princípio empenharmo-nos pela liberdade de expressão na Alemanha. E penso que é também apropriado da nossa parte criticar os atentados à liberdade de imprensa" na Turquia, referiu durante uma conferência de imprensa conjunta com o Presidente tunisino Béji Caïd Essebsi.
"A liberdade de imprensa no caso de Deniz Yücel não foi garantida da forma necessária", assinalou.
Antes, o Ministério dos Negócios Estrangeiros já tinha rejeitado as acusações turcas.
"É uma decisão [a anulação dos comícios] na qual o Governo federal não teve qualquer influência e sobre o qual não pode ter, porque isso pertence à esfera do direito local ou regional sobre a qual temos zero influência", indicou o porta-voz do ministério Martin Schäfer.
"Não é do nosso interesse ou do interesse da Turquia (...) dialogar por intermédio dos 'media', ou que entremos numa confrontação aberta", acrescentou.
As câmaras municipais de Gaggenau e de Colónia (oeste da Alemanha) anunciaram na quinta-feira que não autorizavam dois comícios com os ministros da Justiça e da Economia turcos. As iniciativas pretendiam promover o "sim" ao referendo previsto para 16 de abril na Turquia para reforçar os poderes do Presidente.
No primeiro caso, a edilidade considerou que as instalações que possui não comportavam o afluxo dos participantes. No segundo caso, as autoridades indicaram não terem sido informadas atempadamente pelos organizadores, não podendo acionar as necessárias medidas de segurança.
Mais de três milhões de turcos vivem na Alemanha, a mais importante diáspora turca do mundo, e um eleitorado importante para o Presidente Erdogan. Mas Berlim receia que os conflitos instalados na sociedade turca extravasem para o seu território.
As tensões germano-turcas agravaram-se nos últimos meses, mas a Turquia permanece um parceiro incontornável para a Alemanha e a União Europeia, em particular pela sua função crucial, após o acordo com a UE, em impedir o afluxo de refugiados à Europa.