Médium brasileiro das celebridades é acusado de abusos sexuais
Oprah, Naomi Campbell, Paul Simon, ou os geograficamente mais 'próximos' Lula e Dilma Rousseff. Estas são algumas das celebridades e figuras da política que já se encontraram ou foram atendidos por João Teixeira de Faria, um dos médiuns mais famosos do Brasil. Fama que lhe chegou através das 'curas espirituais' que realiza há mais de 40 anos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, a cerca de 100 quilómetros de Brasília. Mas João de Deus, como é conhecido, acaba de cair em desgraça, depois da emissão de um programa na TV Globo este fim de semana onde dez mulheres o acusam de abusos sexuais.
O programa 'Conversa com Bial' emitiu este sábado depoimentos de quatro dessas mulheres, que dizem ter sido vítimas do curandeiro desde 2010. A coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous foi a única que aceitou mostrar a cara e relatou como, depois de ter procurado João de Deus para curar feridas psicológicas causadas por abusos sexuais sofridos no passado, acabou por sofrer novos traumas no gabinete do médium.
Zahira, que tem um tio a viver em Minas Gerais e ouviu falar de João de Deus pela primeira vez em 2014, afirmou ter presenciado milagres e curas no local, tendo mesmo sido assistente do curandeiro. Depois de uma primeira visita em que se sentiu "segura em ir sozinha", voltou para uma consulta particular com João de Deus no seu gabinete - "um cenário bem bizarro" -, sendo depois encaminhada para uma casa de banho "enorme", onde cabia um sofá. "Ele abriu a calça, colocou a minha mão no pénis dele e começou a movimentar a minha mão. Estava em choque. Enquanto isso, ele continuava falando da minha família e disse que eu deveria sorrir. Depois, ele se limpou, me levou ao escritório, abriu um armário de pedras preciosas e mandou escolher a que eu mais gostasse", contou Zahira Lieneke Mous.
Dias depois dos primeiros abusos, continuou a coreógrafa holandesa, João de Deus terá repetido o mesmo padrão. Mas dessa vez "ele deu um passo adiante: me penetrou por trás". Os relatos chocantes dados ao jornalista Pedro Bial sucederam-se, todos a denunciar métodos e pormenores gráficos semelhantes. "Ele pegava minha mão, para eu pegar no pénis dele. E eu tirava a mão. E ele falava: 'você é forte, você é corajosa! O que você está fazendo tem um valor enorme'. Eu não estava fazendo nada, estava sendo abusada", denunciou uma das mulheres, que ficou no anonimato. "Ele ficou muito próximo e mandou eu colocar a mão para trás. Já estava com o pénis dele para fora. Ele falou: 'põe a mão. Isso é limpeza. Você precisa da minha energia, que só vem dessa maneira, pra eu poder fazer a limpeza em você'", continuou a mesma mulher.
Zahira Leeneke Maus admitiu que fazia o que o curandeiro pedia porque "tinha medo de eles me mandarem espíritos ruins, estava com muito medo". O mesmo receio de retaliação espiritual que levou as restantes mulheres a esconderem a cara. A holandesa acrescentou que agora se sente "protegida" e que quer que "a verdade venha à tona", razões que a levaram já antes a denunciar o caso nas redes sociais, onde tem sido criticada por ter demorado quatro anos a falar sobre os abusos de que diz ter sido vítima.
Abusos que João de Deus negou liminarmente. Numa nota enviada ao programa 'Conversa com Bial', a assessoria de imprensa do médium disse que "apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos". "Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais", respondeu ainda a assessoria do curandeiro, que atende cerca de dez mil pessoas por mês, entre elas muitos estrangeiros, como Oprah Winfrey, que entrevistou João de Deus em 2012 e descreveu o encontro como "uma experiência muito forte".