Matan Ruak acusa Xanana e Alkatiri de esquema de favorecimento à "Suharto"

Fretilin acusou presidente de falar no Parlamento como um "opositor" e o CNRT denunciou estes "insultos sem cabimento"
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O presidente timorense comparou ontem os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e Mari Alkatiri têm dado a "familiares e amigos" com as práticas do ex-ditador indonésio Suharto, numa intervenção no Parlamento. "Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse Taur Matan Ruak.

"O irmão Xanana [ex-primeiro--ministro e atual ministro] toma conta de Timor, o irmão Mari [também ex-primeiro-ministro] toma conta de Oecusse. Eu fico triste. Este vírus está a espalhar-se. O princípio básico da democracia é a confiança. Sem ela a democracia não funciona", sublinhou Matan Ruak.

Intervindo a seu pedido no Parlamento, num momento de crise política em Timor, Matan Ruak recordou um diálogo do início do mês com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo. "Lamentei que familiares e amigos do irmão Xanana e do irmão Mari tenham beneficiado dos contratos do Estado. O senhor primeiro-ministro perguntou-me se eu queria fazer inspeção", disse. "Eu disse-lhe que não. Que estava apenas a falar do descontentamento que se sentia sobre os privilégios. Com o Suharto também acontecia."

Matan Ruak falava no plenário do Parlamento, numa altura em que Timor-Leste vive uma crise política em torno da decisão do presidente sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do governo, o qual defendia a renovação do mandato de Lere Anan Timur.

"Eu não tenho problemas com o governo. Mas o governo usa o argumento do Lere para atingir o presidente. Este continua disponível para discutir no Parlamento para encontrar uma solução para o caso. O PR não quer ser adversário, quer ser parceiro. Pautei o meu comportamento por este princípio", disse ainda. "Não quero uma sociedade na base do poder e dos privilégios. Essa sociedade, aqui e noutros sítios, tem os dias contados", afirmou.

Taur Matan Ruak afirmou que Xanana Gusmão e Mari Alkatiri têm hoje uma "relação de cumplicidade total", que se reflete a nível das respetivas forças políticas, CNRT e Fretilin, no Parlamento. Mas, considerou, essa unanimidade não serviu para resolver os problemas do país. "O Estado de Timor-Leste é excessivamente centralizador. Centraliza competências, poderes e privilégios. Excessivamente esbanja recursos. E cria cidadãos de primeira e de segunda classe", garantiu.

Numa intervenção de menos de 30 minutos, sem discurso escrito, defendeu a sua opção de alterar o comando das forças de Defesa, mas a maior parte do discurso foi dirigido a alguns líderes políticos e aos deputados que há vários anos aprovam os orçamentos do Estado por unanimidade, acusando-os de serem "cúmplices do esbanjamento do Estado". "Tanto dinheiro nestes projetos. E as escolas, agricultura, saúde sem condições. O Parlamento permite este esbanjamento."

Dirigindo-se à população, Taur Matan Ruak saudou a "serenidade" com que acompanharam nas últimas semanas esta polémica e agradeceu aos militares pelo "comportamento". "Mantenham--se assim, Timor precisa de vocês assim. A paz e a estabilidade, uma democracia forte, são essenciais para o futuro de Timor", disse.

Reações

As reações às palavras de Matan Ruak não tardaram. Para o presidente da Fretilin o presidente falou no Parlamento como "a voz de um puro opositor à governação" de Timor-Leste, mas sem oferecer alternativas. Lu-olo acusou ainda o chefe do Estado de ser "o mau da fita" e de não conseguir "desenhar nada de jeito para Timor".

Já Natalino dos Santos, líder do CNRT (o maior partido timorense), acusou o presidente de usar o Parlamento para fazer "insultos sem cabimento" a líderes históricos do país e para "fazer campanha".

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