Mais de 500 mil pessoas contra o funeral do presidente da câmara de Seul
O último dia do funeral do presidente da câmara de Seul, Park Won-soon, que foi encontrado morto depois de ter sido acusado de assédio sexual, realizou-se esta segunda-feira, apesar de uma petição assinada por 500 mil pessoas contra a cerimónia fúnebre organizada pela município.
Ex-advogado dos direitos humanos, Park foi uma figura importante do Partido Democrata, que está no poder, e esteve à frente dos destinos de Seul, que tem quase 20% da população do país, durante quase uma década.
No final da semana passada, Park foi encontrado morto no monte Bukak, a norte de Seul, onde tinha sido visto pela última vez, após de sair de casa, um dia depois de uma ex-secretária ter apresentado na polícia uma queixa de assédio sexual contra ele.
Apesar da polémica em torno da sua morte, a câmara municipal de Seul organizou um funeral de cinco dias a Park (dois a mais que o ritual coreano tradicional, que começa no dia da morte) e instalou um altar em homenagem ao falecido.
Mais de 20 mil pessoas prestaram homenagem durante o período de luto. Durante a cerimónia desta segunda-feira, a filha declarou: "Posso sentir a alegria do meu pai em conhecer os cidadãos, um a um".
Mas uma petição online contra a cerimónia recebeu mais de 500 mil assinaturas.
"O público deve assistir o elegante funeral de cinco dias de um político poderoso que tirou a vida por acusações de assédio sexual?", questionava a petição. "Que tipo de mensagem estão a tentar passar?", lê-se no documento.
Park é o político de maior destaque envolvido em um caso de assédio na Coreia do Sul, uma sociedade muito patriarcal onde o movimento #MeToo ganhou força nos últimos dois anos.
O presidente Moon Jae-in enviou flores para a cerimónia fúnebre e o seu chefe de gabinete compareceu à cerimónia, assim como outros líderes do Partido Democrata (centro-esquerda).
Mas nem o líder interino do partido de oposição United Future nem o principal nome do Partido Popular, Ahn Cheol-soo, compareceram ao funeral.
Quase 100 pessoas acompanharam as cerimónias - onde o número era limitado devido à pandemia de covid-19 - nesta segunda-feira, o último dia do funeral.
O corpo de Park irá ser cremado e as cinzas vão ser levadas para a sua cidade natal, na província de Gyeongsang do Sul.
Com a morte de Park, a investigação do caso de assédio sexual termina automaticamente. Os seus apoiantes tentaram identificar a mulher que apresentou a queixa, considerando-a culpada pelo aparente suicídio.
Num editorial do jornal Korea Herald considera-se "questionável" o funeral de Park A cerimónia oficial "dá a impressão de que Park merece respeito e parece inocente", acrescentou.
O movimento #MeToo da Coreia do Sul atingiu dezenas de homens proeminentes em várias áreas, incluindo um ex-governador da província que tentou a presidência em 2017. Acabou preso no ano passado por abuso sexual, abuso de autoridade, depois da sua assistente o acusar de violá-la repetidamente.