"Lisboa não é alvo prioritário mas o Daesh quer surpreender"
O correspondente da BBC nos cenários de guerra, Andrew Hosken, considera que Portugal não está fora dos alvos do Estado Islâmico
Chama-se Império do Medo a investigação que o correspondente de guerra da BBC, Andrew Hosken, veio lançar a Lisboa. Um relato que mais parece um thriller devido à impossibilidade de o Daesh ter criado um califado no Médio Oriente em tão pouco tempo, bem como um romance de aventuras tais são as situações de violência extrema que ali surgem descritas - e explicadas - ao pormenor sobre o que o Estado Islâmico liderado por Abu Bakr al-Baghadi tem executado no território entre o Iraque, Líbia e Síria, devido ao vazio de poder.
Hosken esteve no rescaldo do atentado às Torres Gémeas, cobriu os atentados em Londres de 2005, os mais recentes em Paris e Bruxelas, tendo entretanto escrito várias reportagens na região em que foi instalado o Estado Islâmico (EI). Repleto de depoimentos de vítimas, de governantes das partes em conflito, das autoridades que foram desarmadas no Iraque após a invasão dos Estados Unidos ou nos bairros periféricos de Londres, Paris e Bruxelas. Um relato aterrador.
Está em Lisboa, uma das poucas capitais europeias livres de um atentado terrorista. Até quando?
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Qualquer grande cidade europeia está sob risco de ser atacada, até porque quanto mais inesperado for melhor. Ou seja, Lisboa não é um alvo prioritário mas o Daesh quer surpreender, daí que não se possa dizer que esteja a salvo.
Porque "faz" parte do califado?
Ben Laden já referia Portugal como parte integrante desse território, mas é Paris, Londres, Bruxelas, talvez Copenhaga, onde há grandes comunidades de muçulmanos radicalizados as situações mais críticas. Como alguns também foram de Portugal para a Síria, seria bom que os vossos serviços secretos estejam bem atentos a esse estado de falsa segurança.
Porquê este ataque à Europa?
Não era preciso ser um génio para prever que iriam atacar a Europa, pois queriam obrigar os europeus a sentir-se envolvidos nesta batalha que está a acontecer na Síria.
A intervenção da Rússia não acabará rápido com esta ameaça?
Bastou uma semana de apoio da Rússia a Assad para mudar tudo. O que também resulta daí é que a Rússia passou a fazer parte da lista de países a atacar. É incrível como uma organização terrorista consegue ter como inimigos os EUA, o Reino Unido, a Rússia e mais de 50 países. E isso não os preocupa, pelo contrário, querem mostrar que estão contra todo o mundo.
Só não ameaçam Israel. Porque poderia apagar o EI do mapa?
É estranho sim, até porque Israel faz parte do plano de expansão do califado e, se tivessem possibilidade, erradicariam os judeus de Israel. Talvez por ser um país militarmente forte e com poder nuclear.
A existência do EI será longa?
É difícil prever porque se desconhece exatamente o que se passa devido à impossibilidade dos jornalistas lá entrarem. Temos de acreditar nos governos, o que nunca é de fiar. A reconquista de Palmira, Tikrit, Raamadi e Rutba, só quer dizer que perderam batalhas mas não a guerra. A capacidade de nos atacarem ainda é infinita.
A preocupação com o património de Palmira não é superior ao da perda de milhares de vidas?
É verdade que às vezes temos mesmo essa impressão, mas a União Europeia não se tem conseguido entender sobre os refugiados.
Sente-se um alvo devido ao livro?
Não quero sequer pensar nisso, até porque falamos muito dos jornalistas estrangeiros que correm perigo e morrem a fazer notícias mas nunca referimos os profissionais do Iraque e da Síria que vivem lá, sujeitos a todas as atrocidades.