"Lincoln Project": os republicanos anti-Trump que irritaram o presidente

A gota de água para Trump foi um anúncio que se tornou viral nas redes sociais, no qual criticam a sua resposta à pandemia de coronavírus.
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Um grupo de consultores republicanos que está contra a reeleição do presidente Donald Trump criou em dezembro o chamado Lincoln Project. Um projeto que saiu agora das sombras, graças ao próprio Trump, que não gostou de um vídeo feito por eles e que o deixou bem claro no Twitter. Não em uma, mas em quatro mensagens diferentes.

Mas comecemos do início.

O Lincoln Project nasceu das mãos de um grupo de republicanos, entre os quais o advogado George Conway, marido da conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway. Conta ainda com o apoio de John Weaver (consultor que trabalhou nas campanhas presidenciais de John McCain), Steve Schmidt (estratega de comunicação que trabalhou na campanha de George W. Bush, entre outros) e Rick Wilson (responsável por vários anúncios políticos).

Os quatro assinaram o artigo de opinião publicado a 17 de dezembro no The New York Times intitulado "Somos republicanos e queremos a derrota de Trump". Nele, diziam que "nos próximos 11 meses, os nossos esforços vão ser dedicados a derrotar o presidente Trump e o trumpismo no boletim de voto e eleger aqueles patriotas que vão manter a linha", alegando que o presidente e os seus apoiantes "abandonaram o conservadorismo e os princípios republicanos e substituiram-nos com o trumpismo, uma fé vazia liderada por um falso profeta"

O nome escolhido era uma homenagem a Abraham Lincoln, o 16.º presidente dos EUA (1861 até ao seu assassinato, em 1865), que esteve à frente do país durante a Guerra Civil e ficou conhecido como "Honest Abe" (Abe Honesto): "Ele percebeu a necessidade de não apenas salvar a União, mas também voltar a tecer e unir a nação espiritual e politicamente", escreveram.

Foi aos pés de Lincoln, no memorial no National Mall em Washington D.C, que Trump respondeu este domingo às perguntas de eleitores e de dois jornalistas da Fox News, no relançar da campanha para as presidenciais de novembro.

De Lincoln a Reagan

Na segunda-feira, o Lincoln Project divulgou um anúncio intitulado "Mourning in America", ou seja, Luto na América, brincando com o famoso slogan e vídeo de campanha para a reeleição do presidente Ronald Reagan, de 1984, "Morning in America", isto é, Manhã na América.

Este apontava os sucessos dos primeiros quatro anos da presidência, com mais dinheiro disponível para os americanos, num sinal de prosperidade e esperança para o futuro.

A versão do Lincoln Group critica a resposta de Trump à pandemia de coronavírus, que deixou os EUA numa grave crise económica. "Mais de 60 mil norte-americanos morreram de um vírus mortal que Donald Trump ignorou", diz o narrador, enquanto se veem casas em ruínas, fábricas vazias e filas de pessoas com máscaras.

"Sob a direção de Donald Trump, o país está mais fraco, mais doente e mais pobre", acrescenta, descrevendo uma economia "em ruínas". Lembra que o presidente resgatou Wall Street, mas não oferece solução para os norte-americanos. Desde o início da crise, 30 milhões de pessoas registaram-se como desempregadas nos EUA.

"Agora os norte-americanos estão a perguntar-se: se tivermos mais quatro anos disto, a América ainda existirá?", diz o narrador, que imita o tom do vídeo de 1984.

O vídeo, partilhado também no Twitter, já teve quase sete milhões de visualizações nesta rede social, tendo sido partilhado mais de 50 mil vezes.

Ira de Trump

Quando o vídeo já era viral, o presidente pôs mais lenha na fogueira, escrevendo na segunda-feira à noite uma série de mensagens, acusando o grupo de ser "uma desgraça" Lincoln.

"Um grupo de republicanos RINO [sigla usada para designar os republicanos só no nome] que há 12 anos falharam horrivelmente e outra vez há oito anos, e que há quatro foram fortemente derrotados por mim, um estreante na política, há quatro anos, copiaram (nenhuma imaginação) o conceito de um anúncio de Ronald Reagan, fazendo tudo o possível para se vingarem de todas as suas derrotas", escreveu o presidente, na primeira de quatro mensagens.

"Sabem, estes tipos perdedores não se importam com 252 novos juízes federais, dois grandes juízes do Supremo Tribunal, um exército reconstruído, uma segunda emenda protegida, os maiores cortes de SEMPRE de impostos e regulamentos e muito mais", acrescentou.

"Eu não usei nenhum deles porque eles não sabem ganhar e o seu chamado Lincoln Project é uma desgraça para o Abe Honesto.Não sei o que Kellyanne fez com o seu marido maluco e louco, cara de lua, mas deve ter sido muito cruel", indicou ainda, especificando ainda as várias derrotas dos outros membros do grupo.

"Eles são todos perdedores, mas o Abe Lincoln, republicano, é todo sorrisos"", concluiu o presidente nas suas mensagens no Twitter.

Mas na terça-feira voltou ao ataque: "Eu mudaria o nome [do grupo responsável pelo vídeo] para chamá-los de 'Losers Project' [Projeto Perdedores]", disse aos jornalistas antes de deixar Washington para uma visita ao Arizona. "Eles são perdedores republicanos" acrescentou o presidente.

Críticas que só chamaram a atenção dos norte-americanos para o Lincoln Project, com Trump a dar-lhes mais visibilidade.

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