Leadsom desiste e Cameron demite-se. É hora de Theresa May
Os britânicos acordaram ontem a pensar que teriam uma nova primeira-ministra só em setembro, depois de uma eleição interna dentro do Partido Conservador, mas a meio da tarde descobriram que Theresa May vai entrar no N.º 10 de Downing Street já amanhã. O volte-face ocorreu depois de a adversária da ministra do Interior, a secretária de Estado da Energia Andrea Leadsom, ter desistido da candidatura à liderança dos Tories, abrindo caminho à "coroação" de May. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou depois que apresentará a demissão a Isabel II após a última sessão de perguntas no Parlamento, presidindo hoje ao último Conselho de Ministros.
Leadsom decidiu desistir da corrida por considerar que "uma campanha de nove semanas não é desejável" para o país, depois do referendo sobre o brexit. "Precisamos de um novo primeiro-ministro o mais rapidamente possível", indicou, considerando que não tinha o apoio suficiente para "liderar um governo forte e estável". Mas a desistência surge também depois de a secretária de Estado da Energia, de 53 anos e com três filhos, ter sido muito criticada por, numa entrevista durante o fim de semana, alegar que estava melhor preparada para ser primeira-ministra porque era mãe. Na semana passada, Theresa May tinha revelado que ela e o marido, Philip John May, não podiam ter filhos.
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Decisão "correta"
"Penso que a Andrea Leadsom tomou a decisão correta ao desistir. É evidente que Theresa May tem o apoio maioritário do grupo parlamentar dos Conservadores", disse Cameron numa declaração frente à residência oficial do primeiro-ministro, para onde entrou há seis anos. "Vamos ter uma nova primeira-ministra naquele edifício atrás de mim até quarta-feira à tarde", acrescentou, dizendo que quer participar numa última sessão de perguntas no Parlamento antes de entregar oficialmente a demissão.
Após a derrota no referendo, Cameron revelou que pretendia deixar a chefia do partido e do governo no outono, dando tempo a uma eleição interna cujo resultado seria conhecido a 9 de setembro. A desistência de Andrea Leadsom, que na última quinta-feira tinha sido escolhida pelos deputados para ser a adversária de Theresa May, antecipou a saída do primeiro-ministro. A ministra do Interior, que no referendo defendeu (mas de forma discreta) a continuação do Reino Unido na União Europeia, já repetiu em várias ocasiões que "brexit significa brexit" e que vai garantir o seu "sucesso".
Num discurso à porta do Parlamento, após ter sido declarada líder dos Tories "com efeito imediato", May disse sentir-se "honrada" por ter sido escolhida e agradeceu aos candidatos que ficaram pelo caminho. Prestou ainda homenagem a Cameron pela sua liderança. Falando no futuro, lembrou que a sua candidatura era baseada em três aspetos: "Primeiro, a necessidade de uma liderança forte e com provas dadas para nos guiar através do que vão ser tempos difíceis e de incerteza económica e política", afirmou, dizendo que o país precisa de "negociar o melhor acordo" para deixar a União Europeia.
"Em segundo lugar, vamos unir o nosso país e, em terceiro, precisamos de uma visão forte e positiva para o futuro do nosso país, uma visão de um país que trabalha não para uns poucos privilegiados, mas para todos nós", disse May. "Porque vamos dar às pessoas mais controlo sobre as suas vidas. E é assim que, juntos, vamos construir um melhor Reino Unido". Os nomes dos ministros do seu governo devem ser conhecidos no final da semana.
Mas, na oposição, ouvem-se vozes que pedem a convocação de eleições gerais, criticando a "coroação" de May. "É crucial, dado a instabilidade causada pelo voto do brexit, que este país tenha um primeiro-ministro eleito democraticamente", disse Jon Trickett, coordenador eleitoral do Partido Trabalhista. "É hora de o Labour se unir e garantir que os milhões de pessoas que foram deixados para trás pelas falhadas políticas económicas dos Tories têm uma oportunidade de eleger um governo Labour", acrescentou. Mas o partido enfrenta os seus próprios problemas, com Angela Eagle a desafiar a liderança de Jeremy Corbyn.
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