Jovens (quase) rendidos a Corbyn
Francesca e Rowena não têm dúvidas em quem vão votar, Tom está indeciso e Alex tem a certeza de que não votará em Theresa May. Katy preferia votar Verdes, mas sente que assim o voto não contaria. Opiniões de cinco jovens britânicos - setor do eleitorado que apoia maioritariamente os trabalhistas - ouvidos ontem pelo DN em Oxford
O cravo fresco na lapela do sub fusc de Francesca é cor-de-rosa, o que indica que o exame de Direito que acaba de sair ainda não foi o primeiro (teria que ser branco) nem o último (vermelho) que fez em Oxford. A formalidade do traje que inclui uma capa que todos os estudantes têm que usar nos exames e cerimónias adequa-se à imponência dos edifícios históricos que rodeiam a praça Radcliffe, no centro da universidade que deu os primeiros passos no final do século XI. Mas contrasta com o telemóvel de última geração onde Francesca, de 22 anos, está a consultar as rede sociais e com as suas preocupações do século XXI: guerra nuclear e brexit.
"Vou votar Labour. Não só o candidato trabalhista do meu círculo eleitoral é melhor que o conservador, como não quero mesmo que a Theresa May continue a ser a primeira-ministra", diz a jovem ao DN. "Não confio nela e confio no Jeremy Corbyn... até certo nível", acrescenta, referindo-se ao líder do Labour e à sua posição pouco firme no que diz respeito ao programa nuclear britânico, Trident. "Mas a verdade é que um bom líder nunca nos põe numa situação de guerra nuclear. E eu prefiro votar num líder que vai fazer coisas boas, que quer acabar com as propinas, que quer nacionalizar os correios e os comboios, do que votar na Theresa May que poderá ser melhor se acabarmos numa guerra nuclear."
Segundo as sondagens, se dependesse do eleitorado jovem, seria Corbyn a entrar no número 10 de Downing Street na próxima sexta-feira, um dia depois das eleições. Os números da pesquisa ICM, feita no início do mês, dizem que 63% dos eleitores que têm entre 18 e 24 anos vão votar de certeza. Destes, 67% vão votar Labour e só 16% vão votar nos Tories. Em 2015, segundo um estudo da IPSOS, só 35% foram votar, ao contrário de 78% com mais de 65 anos.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Apesar de Corbyn ter 68 anos, parece dizer mais aos jovens do que aos eleitores da sua própria idade - há dois anos, quase 50% votaram nos conservadores e agora, com o UKIP a desaparecer, muitos eleitores dos independentistas eurocéticos viram-se para a primeira-ministra. Mas o apoio a Theresa May foi abalado quando anunciou aquilo que o Labour apelidou de "taxa de demência", que iria aumentar os custos para os mais idosos, recuando um dia depois.
Resta saber se a ida às urnas dos eleitores mais jovens terá força para alterar o panorama nacional. "Sinceramente ainda não me decidi", diz Tom, de 21 anos, enquanto prende a bicicleta ao gradeamento que rodeia a Camera Radcliffe, um edifício redondo na praça com o mesmo nome que alberga uma das bibliotecas da Universidade. Saindo da frente das selfies dos turistas chineses que procuram ficar na foto com a Ponte dos Suspiros, o estudante de História explica que tem dúvidas por causa do líder do Labour. "O meu problema é que o Corbyn me parece um pouco inapto. O coração está no sítio certo, mas não me parece um grande líder", diz. "Mas a Theresa May também está sempre a mudar de ideias e parece que não tem tantos princípios", lamenta.
"Eu não tenho tantas reservas como outras pessoas têm em relação a ele. Acho que ele surge aos nossos olhos como alguém genuinamente honesto e preocupado com a população", explica Rowena, que está a estudar Literatura Inglesa e trás vestida uma camisola verde do Colégio Exeter, um dos muitos de Oxford. Em relação à atual primeira-ministra, a mensagem que passa é diferente: "O que vejo é um governo a querer manter os ricos ricos, enquanto os que não têm tanto estão a passar por dificuldades." Com 20 anos, admite que ajuda Corbyn prometer acabar com as propinas, assim como defender a Educação, o Sistema de Saúde ou o cuidado com os idosos. "Se votas Corbyn é porque estás a ser otimista e acho que à medida que as pessoas envelhecem se tornam pessimistas, começam a ficar mais conservadoras e egoístas", resume Francesca.
Para Alex, que está a estudar Música, o facto de a primeira-ministra ter faltado ao debate televisivo também não ajudou. "A vantagem de Corbyn em relação a May é que ela parece muito esquisita e desligada, enquanto ele é muito mais próximo", justifica, dizendo que provavelmente também votará Labour. "Nunca nos Tories", lança, enquanto procura se esconder da chuva que só por momentos parou de cair. Apesar da esperança de mudança, admitem todos que não será fácil Corbyn chegar lá.
Tal como todos lamentam o voto pelo brexit - ainda mais Alex, que só fez 18 anos uma semana depois do referendo em que os britânicos votaram para sair da União Europeia e não tinha ainda idade para exercer o seu direito. E lamentam que tenham sido as gerações mais velhas a decidir algo que os vai afetar mais a eles, com Alex a acreditar que por causa disso hoje há mais jovens interessados em política. Mas, para o caso de se esquecerem, Maddy colocou cartazes nas montras da loja Objects of Use, ao lado do mercado coberto, na High Street. "Todos os votos contam", lê-se num. "O teu voto é a tua voz", diz outro. A gerente, de 29 anos, preferia votar Verdes, mas considera que a única forma que tem de fazer a diferença é votar Labour: "Num mundo ideal, não votaria por ele, mas sinto que ele é o menor dos males", conta.
* enviada a Londres