#JeSuisCirconflexe. O hashtag que coloca a ministra na mira

Najat Vallaud-Belkacem lembrou que aplicação do acordo ortográfico de 1990 não depende do Ministério da Educação.
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Quando a última reforma do acordo ortográfico foi aprovada pela Academia Francesa, em 1990, Najat Vallaud-Belkacem tinha 13 anos e andava no liceu em Amiens. Mas é por causa dessa reforma - aplicada 26 anos depois nos manuais escolares do próximo ano - que a agora ministra da Educação está na mira de todas as críticas. É que o fim dos hífenes em palavras como "millepate" (centopeia), o desaparecimento do "i" em "oignon" (cebola passa a escrever-se "ognon"), mas sobretudo a eliminação de alguns acentos circunflexos estão a irritar sindicatos, professores e cidadãos comuns de tal forma que o hashtag #JeSuisCirconflexe se tornou o mais popular no Twitter em francês.

"Najat Vallaud-Belkacem dá novo erro", titulava o Le Point num artigo de opinião muito crítico da jovem ministra. Nele, a jornalista Sophie Coignard acusava a titular da pasta Educação (desde agosto de 2014) de estar a tentar descartar-se do problema. Isto porque Vallaud-Belkacem emitiu um esclarecimento no qual garantia que a reforma do acordo ortográfico "não está a cargo do Ministério da Educação. É uma tarefa da Academia Francesa desde os tempos de Richelieu".

A verdade é que estas alterações, aprovadas de facto pela Academia em 1990 para simplificar a língua francesa, permaneceram na gaveta durante um quarto de século. Talvez porque na altura geraram aceso debate e duras críticas e, como não têm caráter vinculativo, nunca entraram nos programas de ensino. Até este ano. Por recomendação do Conselho Superior dos Programas e do Boletim Oficial da Educação Nacional, as alterações validadas pelo governo de Michel Rocard, ainda François Mitterrand era presidente, passaram a constar dos manuais escolares do próximo ano letivo.

E mesmo que a Academia Francesa já tenha vindo garantir que a "harmonização ortográfica" que faz com que, por exemplo, a palavra "nénuphar" troque o "ph" pelo "f" e passe a escrever-se "nénufar" continuará a ser "facultativa", as críticas choveram. Sobretudo sobre Vallaud-Belkacem, com o deputado Éric Ciotti d"Os Republicanos (a antiga UMP do ex-presidente Nicolas Sarkozy, de direita) a acusar a ministra de querer impor uma reforma que vem "nivelar por baixo" a língua francesa. Já o sindicato de estudante de direita, UNI, criticou Vallaud-Belkacem por umas alterações que, diz, irão "transtornar" o ensino do francês.

Nova polémica para Najad

Confrontado com a polémica sobre a reforma do acordo ortográfico, o Ministério da Educação francês garantiu não ter feito qualquer anúncio. E a verdade é que tudo começou com uma notícia da estação de televisão privada TF1 que no passado dia 3 garantia: "a reforma ortográfica votada em 1990 será aplicada no início do próximo ano letivo". Mas não ter estado na origem da mudança não poupa a ministra a estar no centro das críticas. De novo. A filha de um operário da construção civil marroquino, formada em Ciência Política e Direito começou a carreira como jurista. Em 2002 juntou-se ao Partido Socialista em 2002, tendo ocupado vários cargos de conselheira, antes de chegar ao governo em 2012, como ministra dos Direitos das Mulheres, mudando para a pasta da Educação dois anos depois.

[citacao:A reforma ortográfica votada em 1990 será aplicada no início do próximo ano letivo]

Desde então tem acumulado as polémicas. Na mira da direita radical e da extrema-direita devido às suas origens magrebinas, em maio do ano passado é a sua reforma do ensino secundário que lhe vale críticas de figuras como o historiador Pierre Nora ou o escritor Jean d'Ormesson, mas também da oposição de direita e dos sindicatos dos professores. E no próprio Partido Socialista, não faltaram vozes a levantar-se contra uma reforma que visa, entre outras coisas, dar mais autonomia às escolas ou o fim do ensino do latim e do grego - do ex-ministro da Cultura Jack Lang à atual titular da Ecologia, Ségolène Royal.

E em outubro, Vallaud-Belkacem voltou a ser notícia pelas piores razões. Numa apresentação numa escola em Lyon, a ministra surgiu diante de um Power Point com uma gralha. Em vez de "Enseignement", escrevera "Ensegenment" no título. O suficiente para que a imagem se espalhasse pelas redes sociais, com comentários pouco simpáticos dos internautas.

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