Japão celebra relações com Portugal com exposição em Sintra

Museu de Arte de Sintra acolhe a partir desta sexta-feira e até 1 de março exposição dedicada ao Património da Humanidade existente no Japão. É o ponto de partida para celebrações de 160 anos de relações diplomáticas luso-japonesas.
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Do santuário flutuante de Itsukushima, no distrito de Hiroxima, aos monumentos das antigas Nara e Quioto, passando pelo legado dos cristãos escondidos em Nagasáqui, são mais de duas dezenas os locais no Japão que a UNESCO reconhece como Património da Humanidade e desde esta sexta-feira até 1 de março o MU. SA, Museu de Artes de Sintra, tem uma exposição dedicada ao tema, que funciona como ponto de partida para as celebrações de 160 anos de relações diplomáticas luso-japonesas. Foi em 1860, no reinado de D. Luís, que Portugal voltou a contactar com o Japão, depois de dois séculos de ausência de relações devido ao fechamento do país asiático ao mundo, que só terminou em meados do século XIX.

"Esta exposição é organizada pela Fundação Japão em Madrid, em colaboração com a Câmara Municipal de Sintra, o Museu das Artes de Sintra e esta Embaixada. Pretendemos mostrar os mais significativos e emblemáticos sítios do Património Mundial da UNESCO, no Japão, neste ano muito especial para as relações de amizade entre os nossos dois países - celebramos os 160 anos de relações diplomáticas entre Portugal e o Japão. Também 2020 é o ano dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e esperamos que com esta mostra fotográfica o público português possa ir ao Japão e conhecer as belas paisagens aqui retratadas", declarou ao DN o embaixador japonês em Portugal, Ushio Shigeru, que estará hoje às 18 horas na inauguração da "Património da Humanidade do Japão", estando também prevista a presença de Basílio Horta, o presidente da câmara municipal de Sintra.

Da espingarda ao cristianismo - o legado português no Japão

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao Japão, em 1543, e levaram não só tecnologia, como a espingarda que permitiu acabar com as intermináveis guerras civis, como o cristianismo, que teve grande sucesso, sobretudo em Kyushu, a mais a sul das quatro grandes ilhas japonesas. Mas se o comércio foi bem-vindo, já a religião levou a uma desconfiança por parte dos xóguns do clã Tokugawa que se refletiu numa vaga de perseguições, como foi mostrado no filme Silêncio de 2016, realizado pelo americano Martin Scorsese, com base num romance do escritor japonês Shusaku Endo. Pouco a pouco, comerciantes e missionários estrangeiros foram expulsos e durante dois séculos só os holandeses, confinados à pequena ilha de Dejima, junto a Nagasáqui, foram autorizados a comerciar.

A reabertura do Japão ao mundo deu-se em meados do século XIX, por pressão dos Estados Unidos. E pouco depois, deu-se a chamada Revolução Meiji, com o imperador a afastar os xóguns do poder, a mudar a capital para Tóquio e a modernizar o país, até hoje um caso de sucesso e terceira potência económica mundial. O reencontro com Portugal foi histórico, dado o contacto inicial no século XVI.

"O Tratado de Paz, Amizade e Comércio, assinado entre D. Pedro V e o Imperador Meiji, em 1860, surgia dois anos após os acordos estabelecidos com Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, Rússia, Holanda e França. Portugal não era agora o protagonista do encontro, tal como fora nos séculos XVI e XVII, mas era-lhe garantido o relacionamento diplomático e, aos súbditos portugueses residentes no Japão, autorizado o livre exercício da religião católica. Esta era uma questão especialmente sensível. O Cristianismo fora um argumento crucial para o corte de relações no século XVII, e a sua proibição remetera as comunidades cristãs nipónicas para a clandestinidade durante dois séculos, num registo tão peculiar que 12 dos lugares associados a estas comunidades foram incluídas no Património Mundial da Unesco no ano de 2018", explica Ana Fernandes Pinto, do CHAM - Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e uma das curadoras da exposição Uma História de Assombro, que no ano passado contou no Palácio da Ajuda a história das relações luso-japonesas.

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