Israel promete barrar entrada a ativistas durante Eurovisão
Autoridades israelitas prometem utilizar "instrumentos legais em relação à entrada em Israel" para garantir sucesso do festival.
Com a data da 64ª edição do Festival da Eurovisão a aproximar-se, as autoridades israelitas receiam que o festival seja alvo de ações de boicote em prol da causa dos palestinianos e avisaram que vão barrar a entrada em Israel a ativistas que pretendam aceder ao evento.
O evento irá acontecer de 14 a 18 de maio e alguns dos artistas já chegaram à cidade de Tel Aviv. "Esta será uma grande festa na qual milhares de pessoas participarão, mas permaneceremos extremamente vigilantes para garantir que ninguém venha aqui para perturbar e destruir", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Emmanuel Nahshon, citado pelo The Guardian.
Numa altura em que a tensão recrudesceu na faixa de Gaza - com 23 pessoas mortas em Gaza e quatro em Israel no último fim de semana, num confronto que foi considerado um dos mais mortais israelitas e palestinianos desde 2014 -, o governo israelita não quer deixar nada fora de controlo. Segundo Nahson, Israel não pretende impedir ninguém de visitar o país, mas se for necessário fazê-lo para preservar o evento, o governo não irá hesitar em utilizar "instrumentos legais em relação à entrada em Israel".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Um comité inaugurado em 2005 pelos palestinianos, intitulado Boicote, Desinvestimento, Sanções e que tem como principais pilares a luta pela liberdade, justiça e igualdade do povo palestiniano, acusa os israelitas de utilizarem o festival como forma de propaganda do regime e da sua atuação na região. O movimento pretende boicotar o festival e já realizou diversos pedidos a artistas para não participarem na Eurovisão este ano, incluindo à rainha da pop, Madonna, que tem uma atuação prevista para o evento.
"Os palestinianos que vivem na Cisjordânia e em Gaza não podem comparecer ao final da Eurovisão em Tel Aviv devido ao muro, entre muitos outros fatores", disse o grupo em um comunicado, referindo-se à barreira construída ao longo da fronteira entre Israel e os territórios palestinianos.
De modo a combater a Eurovisão, artistas palestinianos e internacionais, incluindo artistas LGBT, planeiam transmitir online um festival alternativo durante a final do certame, chamado de Globalvision. "A Globalvision é uma plataforma sem paredes para os artistas palestinianos brilharem, e para os fãs israelitas e globais da Eurovisão se juntarem a eles no espírito da igualdade."
Um dos artistas, Bashar Murad, é um cantor pop palestiniano e apesar de ser fã da Eurovisão desde criança não deixa de condenar as consequências da presença em Telavive. "A Eurovisão é para aproximar as pessoas, mas está quase a ajudar Israel a continuar a oprimir e a ocupar".
Apelos a boicote chegaram a Conan Osíris
Uma carta enviada à organização do festival, em setembro do ano passado, contou com a assinatura de mais de 40 artistas internacionais, que pediram que o festival não tivesse lugar em Israel, visto o governo "violar os direitos humanos dos palestinianos há décadas". O diretor de cinema António Pedro Vasconcelos, a banda Wolf Alice e o músico americano Roger Waters são alguns dos artistas que fizeram parte deste pedido, que até à data foi ignorado.
No ano passado, a cantora Lana Del Rey cancelou a sua presença num festival de verão em Israel devido aos palestinianos estarem proibidos de assistir.
A cantora pop israelita, Netta Barzilai, que venceu o concurso da Eurovisão em 2018, em Portugal, condenou as tentativas de boicote. "Este é um festival de luz", disse à Associação de Imprensa Estrangeira em Jerusalém. "Se as pessoas boicotarem a luz, isso espalha a escuridão".
Apesar de diversos artistas terem tentado convencer o representante português, Conan Osíris, a faltar ao festival, o cantor decidiu ignorar os pedidos e viajou para Israel, onde vai atuar na primeira meia-final, no dia 14 de maio.