Vítima de 'La Manada' falou pela primeira vez. E deixa o apelo: "Denunciem"

Foi numa carta enviada a um programa de televisão espanhol que apelou à que vítimas de casos semelhantes não fiquem em silêncio
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"Denunciem. Ninguém tem de passar por isto. Ninguém precisa de se arrepender de beber, de conversar com pessoas numa festa, de ir para casa sozinho ou de usar uma minissaia. Diga a um amigo, um parente, à polícia, escreva nas redes sociais, faça como quiser, mas conte. Não fique em silêncio, porque se fizer, está a deixar que eles ganhem".

Foram estas as primeiras palavras públicas da jovem que em 2016 foi violada por cinco elementos do grupo 'La Manada', nas festas de Sanfermín, em Pamplona, Espanha. Tinha então 18 anos.

Os jovens de Sevilha foram presos por agressão sexual e não por violação. A condenação foi de nove anos, mas eles pediram recurso. E depois de dois anos em prisão preventiva, os indivíduos foram libertados para aguardar o resultado do recurso sob o pagamento de uma fiança de 6 mil euros, justificada pelo facto de os agressores viverem a mais 500 quilómetros da vítima e de as suas identidades já não serem desconhecidas, o que impossibilita, segundo o juiz, uma reincidência.

Durante este tempo, a vítima nunca falou publicamente. Até hoje.

O apoio que recebeu do país através de diversas manifestações organizadas e de movimentos começados nas redes sociais, incentivou a vítima a marcar uma posição pela primeira vez.

Foi numa carta enviada ao programa de televisão de Ana Rosa Quintana, da Telecinco, que a jovem agradeceu o apoio de Espanha e da sua família, e que exortou todas as vítimas a denunciarem as agressões sofridas.

"Não podemos brincar com uma violação. É indecente e está nas nossas mãos mudá-lo. Por favor, eu só peço que, mesmo que ache que ninguém vai acreditar, que denunciem. Posso assegurar-lhe que o caminho não é fácil, mas eu penso 'o que teria acontecido se tivesse ficado calada?'.

É muito bom condenar alguns fatos, mas todos nós temos de fazer parte da mudança. Se o meu caso mudou a consciência de uma pessoa ou se deu força a outra para lutar, estou satisfeita.

Para todas as mulheres, homens, meninas, crianças que vivem algo semelhante: há uma saída. Pode pensar que não tem forças para lutar, mas ficariam surpreendidos com a força que todos temos."

A apresentadora Ana Rosa Quintana leu a carta na integra salvaguardando sempre a identidade da visada.

O El País contactou os advogados da jovem para averiguar a credibilidade da carta. Estes confirmaram que ela tinha efetivamente escrito uma premissa, mas que não sabiam de mais nada.

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