"Um forte resultado da AfD sublinhará que a Alemanha ainda está dividida"
A Alemanha volta este domingo, 1 de setembro, a ter eleições regionais. Nos estados de Brandemburgo e da Saxónia. Ambos ficam na Alemanha de Leste
De acordo com várias sondagens, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) surge à frente na corrida em Brandemburgo, podendo vencer, pela primeira vez, uma votação para formar governo regional.
Para Lothar Probst, politólogo e professor emérito da Universidade de Bremen, "quase 30 anos depois da unificação, a Alemanha ainda está dividida em duas culturas políticas diferentes".
Qual a importância destas eleições para as regiões em causa e para os partidos que formam a coligação do governo, apontados como os principais perdedores?
Ambas as eleições terão um verdadeiro impacto no cenário político da ex-RDA (Alemanha de Leste). Tanto o Partido Social-democrata alemão (SPD) como a União Democrata-Cristã (CDU) dependem muitos dos resultados de domingo. O SPD está a lutar para impedir o seu declínio e a CDU pode ser afetada por fortes perdas. Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK), líder da CDU e atual ministra da Defesa, será responsabilizada se os números que o partido conquistar forem piores do que o esperado. E, por último, o futuro da grande coligação (que forma o governo federal alemão) também pode estar em causa.
O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está realmente em condições de ganhar estas eleições?
A corrida em Brandemburgo está muito próxima. A AfD pode conseguir ficar à frente nestas eleições, enquanto, na Saxónia, a CDU lidera as últimas sondagens. Mas vencer este escrutínio não significa, contudo, ser o partido mais forte. A questão é perceber qual o partido capaz de construir uma coligação estável. Todos os restantes partidos, em ambas regiões, assumiram não querer cooperar com a AfD. Provavelmente em Brandemburgo, o SPD, os Verdes e o partido A Esquerda (Die Linke) receberão mandatos suficientes para construir uma coligação. Na Saxónia, talvez seja possível construir uma coligação chamada "Kenia", como já existe na Alta Saxóniat, com a CDU, os Verdes e o SPD.
De acordo com as últimas sondagens, a AfD pode obter 21% dos votos em Brandemburgo e 25% na Saxónia. Como é que se pode justificar o sucesso da AfD nas regiões da ex-RDA?
O sucesso da AfD depende de algumas razões. Acima de tudo, a herança autoritária do antigo sistema socialista desempenha um motivo importante. Atitudes autoritárias e nacionalistas sobreviveram sob a égide da ditadura comunista no Oriente. O tipo de revolução cultural que aconteceu em 1968 e em diante, no Ocidente, com o apoio de valores mais liberais e mais tolerância, nunca ocorreu na Alemanha Oriental. Os alemães de leste também não estavam acostumados a viver em bairros com pessoas de outros países e culturas. Isso explica a atitude anti-imigrante de parte da população da Alemanha Oriental. Uma segunda razão é a deceção de muitos alemães orientais com o resultado da transformação numa economia de mercado, incluindo a experiência do desemprego e da desindustrialização. Um terceiro ponto é a desertificação de muitas zonas rurais do Oriente: os jovens deixaram as regiões e foram para o oeste por motivos de trabalho, a mobilidade nestas áreas é muito má e difícil, o fornecimento de internet rápida é ainda pior e a criminalidade nas regiões fronteiriças tem vindo a generalizar-se. É nesse ponto que a propaganda da AfD explode.
Se vencerem estas eleições, o que significa?
Um forte resultado da AfD sublinhará que quase 30 anos após a unificação a Alemanha ainda está dividida em duas culturas políticas diferentes.
A economia poderá também ser abalada com estes resultados?
Não acho que estas eleições tenham um grande impacto na economia. A economia é muito mais impulsionada pela agenda internacional (conflito comercial entre os EUA e China, Brexit, crise no Oriente Médio), porque isso afeta a exportação de produtos alemães no mercado mundial.