Seis países disponíveis para acolher migrantes do Lifeline
Portugal, França e Itália são três dos seis países que já aceitaram acolher alguns dos 234 migrantes que estão a bordo do Lifeline, apesar das informações contraditórias sobre se o navio terá ou não sido autorizado a atracar em Malta após cinco dias no Mediterrâneo à espera de solução. "Recebemos uma mensagem de Malta às 18.00 a dizer que não tínhamos autorização de entrar nas águas territoriais. Por isso, não podemos confirmar as notícias nos media", escreveu ontem no Twitter a organização não governamental alemã responsável pelo navio.
A informação de que o governo maltês tinha autorizado o Lifeline a atracar em foi dada horas antes pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, dizendo estar disponível para cumprir a sua parte e acolher alguns dos que seguiam a bordo. Itália fechou os seus portos aos navios de ONGs internacionais que efetuam o resgate de migrantes - e obrigou outro navio, o Aquarius, a procurar uma alternativa, que acabou por ser Espanha.
Conte disse ainda que o Lifeline será apreendido e o capitão investigado por alegadamente ter ignorado as instruções de deixar a guarda-costeira líbia resgatar os migrantes, recolhendo-os. Malta disse em comunicado que poderia estar disponível para abrir os seus portos (sem dar certezas), admitindo ações legais: "Na eventualidade de o navio entrar em portos malteses, haverá investigações e possíveis ações contra o MV Lifeline."
Mais cedo, o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita tinha dito que Portugal iria responder afirmativamente ao pedido maltês para acolher migrantes, faltando definir quantos virão. E após uma reunião com o Papa, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez o mesmo, dizendo que já havia seis países disponíveis para esse acolhimento. A própria Malta seria um, enquanto a cidade de Berlim, também recetiva, precisa da autorização prévia do governo alemão.
Debate na União Europeia
Em vésperas do Conselho Europeu de quinta e sexta-feira multiplicam-se as reuniões sob o tema migratório. Ontem, após reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu que a única forma de responder a este problema é através de uma política comum, em que todos os estados-membros partilham a responsabilidade.
Entretanto, a agência das Nações Unidas para as Migrações e os Refugiados disse que vai apresentar um plano para a criação das "plataformas de desembarque regionais" à volta do Mediterrâneo, onde os migrantes podem ficar até a União Europeia decidir ou não abrir-lhes as portas. Um plano que parece recolher o apoio dentro dos 28, ao contrário da ideia de quotas.
Uma vitória e um revés para Trump
Do outro lado do Atlântico, o presidente norte-americano, Donald Trump, tem razões para estar feliz, mas também para ficar chateado. Por um lado, o Supremo Tribunal norte-americano validou o seu travel ban, que proíbe a entrada de cidadãos de sete países (cinco deles de maioria muçulmana) nos EUA. Por cinco votos contra quatro, o tribunal não considerou haver discriminação religiosa e disse que o presidente usou de forma legítima as suas as suas prerrogativas em matéria de imigração. Para Trump isto é "uma vitória tremenda para o povo americano e para a Constituição".
Por outro, depois de ter dado ordens para parar a separação de famílias na fronteira, o presidente foi obrigado, na prática, a suspender a política de tolerância zero contra os migrantes. Assim, as autoridades vão continuar a deter os adultos que cruzem ilegalmente a fronteira sem crianças. Mas, por falta de recursos, aqueles que têm filhos só vão ser acusados e detidos se já tiverem outro processo pendente.
O vice-presidente Mike Pence estará na quinta-feira na Guatemala, onde irá discutir o tema da imigração com o presidente Jimmy Morales, assim como os líderes de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, e das Honduras, Juan Orlando Hernández. Mais de metade dos 300 mil migrantes detidos no ano passado quando tentavam entrar ilegalmente nos EUA são destes três países.
A crise esquecida
As imagens da fuga dos rohingya da Birmânia para o Bangladesh valeram um prémio Pulitzer à Reuters e, ao fotógrafo australiano Patrick Brown (num trabalho para a Unicef), um primeiro lugar na World Press Photo. Mas o facto de mais de 700 mil pessoas serem obrigadas a fugir ou arriscarem a morte fica em terceiro plano face ao que ocorre nos EUA ou na Europa.
Um relatório da Amnistia Internacional, baseado em mais de 400 entrevistas, fala em "limpeza étnica" e acusa o líder das forças armadas birmanesas, o general Min Aung Hlaing, defendendo que seja julgado no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.