Porquê a desconfiança e até hostilidade do Reino Unido em relação à Europa?.Ilha-nação habituada a, como escrevia o historiador Vernon Bogdanor, "viver em esplêndido isolamento, protegida pela Marinha e pelo império", a Grã-Bretanha resistiu a todas as tentativas de invasão - da Armada Espanhola a Napoleão ou Hitler. E durante séculos habituou-se a pensar em si própria como não fazendo parte da Europa. Alguns dos seus principais feriados celebram mesmo a resistência da ilha perante as conspirações continentais para lhe retirar a liberdade..Isso explica a resistência britânica a aderir à CEE, antepassada da UE?.Em grande parte. A ideia de uma União Europeia surgiu em 1945, no final da II Guerra Mundial, e com o objetivo de unir as nações do continente de forma tão próxima que estas não voltassem a querer destruir-se. Um projeto que contou com o apoio do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, defensor de uma estrutura sob a qual possamos viver em paz, segurança e liberdade... uma espécie de Estados Unidos da Europa. Mas o Reino Unido esteve na reconstrução da Europa, estando na iniciativa do Tratado de Dunquerque, do Tratado de Bruxelas e do Tratado de Washington, que cria a NATO em 1949, em 1951 ficou de fora da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. E seis anos depois rejeita o convite para se juntar aos seis Estados fundadores da Comunidade Económica Europeia (CEE), levando Jean Monnet a dizer mais tarde: "Nunca percebi porque é que os britânicos não aderiram. Cheguei à conclusão de que deve ter sido o preço da vitória - a ilusão de que podiam manter o que tinham, sem mudanças"..Então porque aderiu o Reino Unido em 1973?.Na verdade, já tentara entrar na CEE em 1961, mas o pedido foi vetado, duas vezes, pelo presidente francês Charles de Gaulle. Só 12 anos depois, já sem De Gaulle no Eliseu, o primeiro-ministro Edward Heath assina a adesão do Reino Unido. E 1975, num referendo à CEE, 67% dos britânicos votaram a favor da permanência..Mas não foi o fim do debate?.Não, não foi. Nem na sociedade britânica nem dentro dos próprios partidos. Em 1984, o governo de Margaret Thatcher negociava uma das exceções que o Reino Unido exigiria para continuar na União: um desconto permanente (conhecido como cheque britânico) na contribuição para o orçamento europeu..O Reino Unido também ficou fora do euro....Sim, apesar de o primeiro-ministro Tony Blair ter defendido que o Reino Unido devia aderir ao euro, o país acabou por ficar fora da moeda única, mantendo a libra..Era de esperar a vitória do brexit no referendo de junho de 2016?.Em parte. O próprio governo conservador de David Cameron estava dividido, com o primeiro-ministro e alguns ministros a apoiarem a permanência e outros a defenderem a saída. Após uma campanha muito centrada no receio da imigração - que coincidiu com o pico da chegada de refugiados à Europa - a saída acabou por vencer com 51,9% dos votos. Mas não foi unânime em todas partes do Reino Unido. Na Escócia e na Irlanda do Norte a permanência venceu largamente, bem como em Londres. Perante este resultado, Cameron demitiu-se e Theresa May assumiu a chefia do governo, tendo acionado o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que permite a saída de um Estado da UE, em março de 2017..E quando se dá a saída?.Em princípio, em março de 2019, dois anos depois de acionado o artigo 50. Depois do acordo alcançado ontem, em fevereiro, as negociações passam para a segunda fase - a relação futura entre Reino Unido e UE.