"O Senhor levantou Jair Bolsonaro duas vezes, porque o Senhor não permitiu que a morte o tragasse, o Senhor ungiu Jair Bolsonaro, um patriota, um cristão verdadeiro, agradecemos em nome de Jesus, o Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.".O autor desta oração, divulgada ao vivo para espanto de muitos espectadores no país e no mundo momentos depois de confirmada a eleição do candidato do PSL, foi o pastor Magno Malta, um dos mais devotos colaboradores de Jair Bolsonaro. Porque nem só do general Mourão, virtual vice-presidente, do general Heleno, futuro ministro da Defesa, do general Ferreira, provável ministro da Infraestrutura, do general Ribeiro Souto, falado para ministro da Educação, do major Olímpio, novo senador, ou do general Peternelli, eleito deputado, se faz o exército de apoio do novo presidente..Magno Malta.Malta, que orou naquela hora abraçado a Onyx Lorenzoni e sob o olhar atento de Gustavo Bebianno, outros dois civis ao lado do capitão reformado, é um ex-senador. "Ex" porque o evangélico contrário às causas LGBT perdeu a reeleição no dia 7 para Fabiano Contarato, um gay assumido, casado com um homem e pai adotivo de um menino..E também é uma espécie de "ex" vice-presidente porque foi uma das primeiras escolhas de Bolsonaro mas acabaria por ceder o lugar ao general Mourão, uma vez que o seu partido, o PR, preferiu coligar-se com Geraldo Alckmin (PSDB), derrotado na primeira volta. "Mandei-lhe uma cartinha de amor a convidar para vice...", chegou a dizer o hoje presidente..Mas já em meados de junho profetizava, citado pelo jornal Gazeta do Povo, que Bolsonaro seria eleito "comigo ou sem migo [sic]". Vocalista da banda gospel Tempero do Mundo e marido de Lauriete, cantora cristã de sucesso desde O Segredo É Louvar, álbum de 2001, é radicalmente contrário ao aborto e à "ideologia de género". "O Supremo [Tribunal Federal] votou agora que o macho que se sente transgénero pode entrar no banheiro das senhoras e as minhas filhas e a minha mulher não podem falar nada para não constrangê-lo mas ele pode mijar de pé e respingar o vaso todo", afirmou via TV Senado..Malta, que apoiou Lula e Dilma Rousseff porque foi "enganado", acredita "num país que volte a cantar o hino e que não glamorizeos vagabundos". Cinturão preto de jiu-jitsu, praticante de quatro horas diárias de musculação, fã e amigo do ator Steven Seagal, recusa o rótulo de "extremista de direita". "Não sou de direita, sou endireita, vou endireitar o Brasil.".Gustavo Bebianno.Ao quarto de Bolsonaro no Hospital Israelita Albert Einstein onde o candidato convalesceu da facada no abdómen só quatro colaboradores puderam aceder a qualquer hora - e apenas um não tinha o apelido do candidato. Gustavo Bebianno, advogado e, tal como Malta, um cinturão preto de jiu-jitsu, geriu ao lado de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro, os filhos do presidente com quem chegou a ter choques de personalidade, a agenda de campanha na ausência do líder..Controlou a arrecadação e os gastos da candidatura, as estratégias jurídicas, os contactos com a imprensa e até o partido - assumiu em janeiro a presidência interina do PSL, que devolveu ao anterior presidente, Luciano Bívar, horas depois de cumprir a missão de eleger o capitão..Ser um político amador e inexperiente não o inibe: "O Titanic foi construído por profissionais, a Arca de Noé por amadores.".Devoto de Bolsonaro, chegou a dizer que nutria "um amor, heterossexual, pelo capitão" na convenção do partido, em julho..Onyx Lorenzoni.Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni perderam juntos a batalha em 2003 mas ganharam a guerra em 2018. Naquele ano, fizeram na Câmara dos Deputados oposição ao grupo antidesarmamento, que viria a sagrar-se vencedor no referendo que propôs dificultar a compra de armas no Brasil. Quinze anos depois, o presidente e o seu futuro ministro-chefe da Casa Civil, o encarregado da estabelecer a ponte entre o executivo e o legislativo, devem conseguir revogá-lo..Veterinário de profissão, trata Bolsonaro desde aquela época por "Cavalão", uma alcunha ganha no exército por causa da sua impecável forma física, e recebe em troca o petit nom "Gauchão", numa referência ao estado, Rio Grande do Sul, de onde é natural..Profético, viu à distância o potencial eleitoral de Bolsonaro num país revoltado com a Lava-Jato e ansioso por novo discurso. "Do que tu precisas nesta altura é de ir para as redes e potenciar esse discurso", disse-lhe Lorenzoni, que como é normal entre gaúchos, mas invulgar no Brasil, usa a segunda pessoa do singular..Entretanto, Onyx (o nome próprio deriva de uma variante do mineral calcedónia), apesar de ter sido relator do projeto parlamentar "Dez Medidas contra a Corrupção", tem contra si ter o facto de ter sido atingido pela Lava-Jato por receber uma doação não declarada da produtora de carnes JBS..Paulo Guedes.Onyx Lorenzoni levou ontem um puxão de orelhas público: o autor foi um dos raros homens do presidente tão ou mais poderoso do que o "Gauchão": Paulo Guedes, o guru económico de Bolsonaro e responsável pela metamorfose do novo presidente, que passou de estatizante, à moda da ditadura militar, a liberal, disposto a privatizar todas as empresas públicas possíveis. Guedes não gostou de que Lorenzoni, a quem compete falar de política, opinasse sobre a reforma previdenciária, um assunto sobretudo económico. "Se eu sair aí falando coisa de política não dá certo, né?", repreendeu o futuro ministro das Finanças..Bolsonaro chama-lhe "Posto Ipiranga", numa alusão a um anúncio a uma marca de postos de combustível cujo slogan é "o melhor é perguntar lá no Posto Ipiranga"..Guedes, formado na famosa Escola de Chicago, berço de economistas ultraliberais, convenceu Bolsonaro a assumir o superministério da Economia e planeamento num hotel na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, onde o presidente reside. "Se privatizar tudo, a dívida passa a zero, se privatizar metade, a dívida passa a metade", disse-lhe o economista..A relação entre os dois, de temperamentos explosivos, preocupa os mercados. "Quando a gente se casa, nunca é pensando em divórcio, às vezes acontece, não posso garantir que não aconteça, mas se acontecer não será por nenhum motivo pequeno ou fútil", garantiu Bolsonaro..Marcos Pontes.Não é, em rigor, um civil, por ser tenente-coronel da Força Aérea na reserva. No entanto, Marcos Pontes, preanunciado ministro da Ciência e da Tecnologia, é muito mais conhecido por ser o primeiro astronauta brasileiro, sul-americano e lusófono. Participou na missão Soyuz TMA-8 à Estação Espacial Internacional, ao lado de dois colegas, um russo e um americano, em 2006. Foi até tema de uma música - Out of This World - da banda de power metal brasileira Angra..Joice Hasselman.Entre os homens mais fiéis do presidente, há, no mínimo, uma mulher. "Quero ser a Bolsonaro de saias", disse ela ao jornal Folha de S. Paulo, dias depois de ser eleita deputada federal com mais de um milhão de votos, um recorde entre mulheres..Jornalista de formação, foi despedida da revista Veja por 65 plágios de veículos de comunicação, incluindo a própria Veja, segundo o Conselho de Ética do Sindicato de Jornalistas do Paraná, o seu estado natal..Desde então, publica vídeos nas redes sociais com recordes de audiência. Em dois dos mais vistos, já durante a campanha, alertou para uma fraude ao garantir que se o eleitor digitasse o número um na urna eletrónica automaticamente surgiria o candidato do PT Fernando Haddad - no Brasil, a votação é realizada em máquinas tipo multibanco em que se digita o número do candidato e quer Haddad (13) quer Bolsonaro (17) tinham números iniciados por 1. O vídeo foi enquadrado pelo Tribunal Eleitoral na categoria fake news..Noutra ocasião, anunciou, sem citar fontes nem apresentar provas, que a sua antiga empregadora, Veja, recebeu 600 milhões de reais (cerca de 135 milhões de euros) para publicar uma reportagem contra Bolsonaro nos últimos dias de campanha.