A Liga de Matteo Salvini e mais uma dezena de partidos nacionalistas realizaram uma manifestação em Milão com a promessa de mudarem a paisagem política do continente europeu após as eleições da próxima semana. "Não há extremistas, racistas ou fascistas nesta praça. Nós estamos a construir o nosso futuro", disse Salvini. "Aqui não há extrema-direita, mas a política do bom senso. Os extremistas são aqueles que governaram a Europa nos últimos 20 anos", acusou o vice-primeiro-ministro italiano..O ministro do Interior de Itália prometeu aos milhares de apoiantes presentes que, se o partido vencer as eleições, não entrará nem mais um migrante na UE, bem como "libertar" a Europa da "ocupação abusiva organizada em Bruxelas"..Salvini está confiante de que a sua aliança recém-formada vai conquistar um número recorde de lugares nas eleições europeias, o que possibilitará ter uma palavra a dizer sobre a forma como a Europa será conduzida nos próximos cinco anos. Em Itália, a Liga deverá ser o partido mais votado, o que acontecerá pela primeira vez, e poderá duplicar a percentagem que obteve nas legislativas (17%).."Este é um momento histórico", disse a líder da União Nacional francesa, Marine Le Pen. "Dizemos não a essa imigração que submergiu as nossas nações e que pôs o nosso povo em risco", disse, abordando uma questão que faz parte do discurso central dos partidos nacionalistas, como o da Liga e de outros presentes, como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Partido da Liberdade holandês (PVV)..As sondagens indicam que a aliança de Salvini poderá ficar com o quarto maior grupo parlamentar em Estrasburgo. Mas Marine Le Pen disse que outros partidos poderão juntar-se, incluindo o Fidész do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que está no Partido Popular Europeu. Orbán apoiou Salvini e prometeu cooperar, embora não tenha dado sinais de se juntar a um grupo com Le Pen..Os partidos nacionalistas estão unidos na retórica contra a imigração, pela devolução da soberania aos Estados-membros e por combater a propagação do islamismo. Mas no que respeita às políticas económicas e sociais há bastantes divergências. Sem surpresas, Salvini concentrou-se naquilo que une a extrema-direita, e saudou o legado do Papa João Paulo II. Já o atual pontífice, Francisco, que defende os direitos dos migrantes, foi vaiado. Os outros alvos dos discursos foram a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron, e o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker.."Não somos anitieuropeus, somos contra a Europa atual e a sua elite decadente. Devemos derrotar essa elite: Juncker, Draghi, Macron e Merkel", disse o eurodeputado Jorg Meuthen, da AfD. A manifestação ficou ensombrada pelos acontecimentos na Áustria. "Grande reunião de reformistas da UE em Milão, no sábado. Estou ansioso!", anunciara o cabeça de lista do Partido da Liberdade austríaco (FPÖ) às eleições europeias, Harald Vilimsky. A reunião realizou-se, mas sem a sua presença. Vilimsky cancelou a viagem porque em Viena rebentou o escândalo que envolveu o seu líder, Heinz-Christian Strache, e que condenou a coligação da extrema-direita com os conservadores..O escândalo envolveu um dos mais importantes aliados de Salvini, o FPÖ e o seu líder, que fez o governo cair depois de ter sido filmado a promoter contratos em troca de financiamento partidário..Zorro e antifascistas unidos.Ao mesmo tempo que os líderes de extrema-direita falavam, uma marcha de opositores terminou junto da Piazza del Duomo. "Fascistas fora de Milão", gritaram enquanto Salvini subia ao palco..Um homem mascarado de Zorro pendurou um pendão com a frase Restiamo Umani (vamos manter-nos humanos). A faixa acabou por ser retirada. Juntou-se à manifestação contra a reunião de líderes nacionalistas o cantor Vinicio Capossela. "Sou um cidadão livre que expressa a sua discordância ao participar neste evento", disse Capossela.