Ministro da Defesa é primeira baixa de assédio no parlamento
O ministro da Defesa britânico, Michael Fallon, que na segunda-feira pediu desculpa por ter posto a mão no joelho da jornalista Julia Hartley-Brewer durante um jantar em 2002, demitiu-se ontem depois de admitir que teve "uma conduta aquém dos elevados padrões" esperados nas Forças Armadas que tem "a honra de representar". É a primeira baixa num escândalo que está a abalar o Parlamento britânico, depois de a imprensa revelar que as funcionárias de Westminster tinham criado um grupo secreto na aplicação WhatsApp para denunciar casos de assédio sexual por parte dos políticos de todos os partidos.
"Um número de acusações tem vindo a público sobre os deputados nos últimos dias, incluindo algumas sobre a minha conduta anterior. Muitas destas têm sido falsas, mas aceito que no passado fiquei aquém dos elevados padrões que exigimos às Forças Armadas que tenho a honra de representar", escreveu Fallon na carta de demissão de ministro da Defesa que enviou à primeira-ministra britânica, Theresa May. Fallon, de 65 anos, estava no cargo desde julho de 2014, tendo antes estado em várias secretarias de Estado. É deputado desde 1983.
A demissão surge depois de a própria jornalista desvalorizar o caso. Num comunicado tinha dito, sem mencionar Fallon, que depois de ele repetidamente lhe ter posto a mão no joelho durante o jantar, lhe disse "calma e educadamente" que lhe dava "um murro na cara" se ele continuasse. Ele parou com esse comportamento. Contudo, segundo fontes citadas pelos jornais britânicos, Fallon terá estado envolvido em incidentes semelhantes mais recentemente, não podendo garantir que não tinha atuado de forma inapropriada. Mas não são conhecidas mais queixas.
Fallon não é o único membro do governo alegadamente envolvido no escândalo, com o próprio vice--primeiro-ministro, Damian Green, a ser posto em causa. Ele nega todas as acusações. No total, a lista negra inclui 40 deputados conservadores, mas também há pelo menos uma denúncia de uma ativista do Labour que foi pressionada a não denunciar uma violação porque isso iria prejudicar a sua carreira. O Partido Trabalhista já abriu um inquérito.
A lista foi compilada a partir das denúncias feitas num grupo secreto de WhatsApp (aplicação de mensagens), no qual as mulheres que trabalham em Westminster partilham histórias do comportamento indevido dos deputados de ambos os partidos - apelidados de sex pests, isto é, pragas sexuais. Foi criado depois do escândalo sexual em Hollywood a envolver o produtor Harvey Weinstein e da campanha #metoo (eu também).
No grupo, as mulheres denunciam quem faz sexo no gabinete, quem assedia os funcionários (de ambos os sexos) ou quem lhes dá alcunhas sexistas. E avisam que determinado político "não é seguro nos táxis", que outro "gosta muito de tocar" ou que é melhor não andar de elevador com um terceiro. Há também um deputado que, alegadamente, mandou a secretária comprar vibradores para a mulher e para uma outra funcionária. O dossiê que veio a público foi compilado por funcionários conservadores e diz apenas respeito a políticos do partido no governo.
A primeira-ministra britânica prometeu agir onde houver provas de má conduta por parte dos políticos, sugerindo uma reunião com os líderes partidários na próxima segunda-feira, e a criação de um órgão independente para analisar as denúncias.