Franco. Espanha apresenta queixa por "ingerência" de embaixador do Vaticano em "assunto interno"

O Governo espanhol anunciou que vai apresentar uma queixa formal junto do Vaticano pelas declarações do núncio (embaixador) em Espanha, Renzo Fratini, que assegurou que o executivo de Madrid tinha "ressuscitado" o ditador Francisco Franco.
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"Vai haver uma queixa formal junto do Estado do Vaticano. Vai haver uma queixa por uma ingerência desta natureza, disse esta segunda-feira a vice-primeira-ministro do Governo espanhol, Carmen Calvo, numa entrevista à rádio Cadena SER. Para a número dois do executivo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, o comentário do representante do Vaticano em Espanha era "improcedente e inaceitável" no que diz respeito ao "fundo e à forma".

O embaixador da Santa Sé "não tem de entrar nos assuntos internos de um Estado" e fazer comentários sobre um tema "tão importante como é exumar os restos de um ditador", acrescentou. O núncio apostólico em Espanha, Renzo Fratini afirmou que o Governo de Pedro Sánchez estava "ressuscitando Franco".

"Sinceramente, há tantos problemas no mundo e em Espanha, Porquê ressuscitá-lo? Eu digo que ressuscitaram Franco. Deixá-lo em paz era melhor...", afirmou Fratini, sublinhando que "a Santa Sé tem tido uma posição neutral" e que se trata de "um problema mais da família de Franco e do Governo" socialista.

Para o embaixador do Vaticano, por detrás do projeto do Governo socialista estão "motivos sobretudo políticos" e também "ideológicos".

O Governo espanhol decidiu a 15 de março exumar os restos mortais do antigo ditador, que estão no Vale dos Caídos, para o cemitério de Mingorrupio, na povoação de El Pardo, também nos arredores de Madrid.

A transferência do corpo devia já ter sido realizada em 10 de junho passado, mas o Supremo Tribunal espanhol decidiu suspender, de forma cautelar, o plano do Governo, enquanto não houver decisões sobre vários recursos apresentados, principalmente pela família do ex-ditador.

Os familiares estão contra a transferência do corpo e insistem que apenas poderiam considerar a exumação para a catedral de Almudena (Madrid), possibilidade que já tinha sido rejeitada pelo executivo. Para o Governo socialista, o corpo do ditador não pode ser transferido para qualquer local onde possa ser "enaltecido ou homenageado".

Francisco Franco Bahamonde foi um militar espanhol que integrou o golpe de Estado que, em 1936, marcou o início da Guerra Civil Espanhola, tendo exercido desde 1938 o lugar de chefe de Estado, até morrer em 1975, ano em que se iniciou a transição do país para um sistema democrático.

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