Liam Neeson e a violação de uma familiar: "Queria matar um 'sacana de um negro'"
Liam Neeson, o ator que ficou conhecido por encarnar Oskar Schindler no filme de Steven Spielberg A Lista de Schindler e agora se assumiu como protagonista de filmes de ação, é acusado de racismo por defensores dos direitos civis, depois de ter admitido que já quis matar "um sacana de um negro" após a violação de uma familiar sua.
A revelação foi feita em entrevista ao jornal TheIndependent, a propósito do seu último filme, Cold Pursuit (Vingança Perfeita, que se estreia nesta quinta-feira em Portugal). Neeson interpreta o papel de um homem que procura destruir um gangue de traficantes de droga responsável pela morte do filho. Agora, durante a promoção do filme, o ator norte-irlandês confessou compreender esse instinto "primitivo" que leva as pessoas a reagir de forma agressiva a episódios violentos, ilustrando com um caso pessoal.
"Há qualquer coisa de primitivo - Deus queira que nunca tenham um familiar ferido num ato criminoso". Foi de uma forma "hesitante e pensativa", nas palavras da jornalista do The Independent, que o ator começou por recordar um episódio passado "há algum tempo", quando estava em viagem. Regressado a casa, Neeson ficou a saber que uma familiar tinha sido violada. "Ela lidou com a violação de uma forma extraordinária, mas a minha reação imediata foi perguntar-lhe se ela sabia quem a tinha violado. Respondeu que não. E de que cor era? Ela disse que era um negro."
E é partir deste ponto que Liam Neeson reconhece que passou os dias seguintes à procura de um pretexto para matar uma pessoa negra. Não necessariamente o autor da violação, mas apenas alguém que se metesse com ele. "Durante uma semana, vagueava para cima e para baixo com um bastão, na esperança de ser abordado por alguém. Na esperança - e tenho vergonha de o admitir - de que um 'sacana de um negro' saísse de um bar e se metesse comigo por uma razão qualquer, percebe? Só para que... [pausa] pudesse matá-lo.".
Apesar de sublinhar de seguida que acabou por cair em si e que percebeu que a violência não resolve os problemas, as reações arrasadoras à entrevista do ator não tardaram, não só entre internautas anónimos mas também de jornalistas, artistas e ativistas dos direitos civis. "Portanto, a resposta de Liam Neeson à violação de uma pessoa que lhe é querida é: 1 - perguntar a raça do agressor, o que diz muito sobre o facto de o seu racismo já estar enraizado antes da violação; 2 - Vaguear por (presumivelmente) bairros negros na esperança de provocar uma pessoa negra para poder matá-la", escreveu no Twitter Julia Craven, jornalista que escreve sobre questões raciais no The Huffington Post.
O músico afro-americano Donwiil foi outra das figuras públicas que criticaram as palavras de Liam Neeson, que marcam o início do mês da história negra, que celebra as conquistas desta comunidade nos Estados Unidos da América. "E ao quarto dia do Mês da História Negra o Liam Neeson recorda aquela vez em que procurou matar um negro de forma aleatória."
Durante a entrevista ao The Independent, Liam Neeson, agora com 66 anos, recordou a sua juventude na Irlanda do Norte, as pessoas que conhecia e que morreram em greves de fome e de como isso gerou um sentimento de vingança nos seus familiares e amigos. "Mas isso só leva a mais vingança, mais e mais mortes, e a Irlanda do Norte é a prova disso." Advertências que não chegaram para acalmar o coro de críticas que entretanto se instalou.