"É a terceira vez que sou violada pelo mesmo homem, ele marcou, não me dá comida". LIG (o nome que o Jornal de Notícias dá a esta mulher para proteger a sua identidade) estaria à espera de alimentos junto ao posto do chefe de Lamego, distrito de Nhamatanda, Moçambique quando foi mandada para casa. O chefe da localidade disse que lhe levaria um saco de arroz mais tarde..Naquela noite tinha apenas uma mão com arroz que cozeu para dar aos três filhos com dois, oito e 12 anos. Ela não comeu. Dali a umas horas, depois dos filhos já estarem deitados num colchão no chão, terá aparecido o mesmo homem que lhe prometera comida. Trazia consigo um saco de arroz com dez quilos, mas não lho deu. Perguntou-lhe se tinha dinheiro. Ela disse que não. LIG deitou-se com ele a troco de comida..Não é caso único, relata o jornal. "Há dezenas, centenas de mulheres nessa condição. Não é só aqui. Esse homens maus são vários e trabalham como chefes da localidade. É o chefe quem faz as listas das pessoas e depois decide quem recebe, ou não, os alimentos doados, eles têm esse poder", denuncia Rui Miguel Lamarques que tem estado envolvido na ajuda à população da Beira..Confrontado com esta situação o chefe da localidade de Lamego, José Simão Size, ele próprio acusado de abusar sexualmente as vítimas do ciclone Idai, nega tudo. "Mas que violações? O senhor viu alguma coisa? Não viu porque não há. Negro africano gosta muito de difamar, É tudo mentira", diz..O ciclone Idai fez mais de 600 mortos, cerca de 1600 feridos e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço.