Embaixadora americana na ONU pode ter saído por aceitar boleias em jatos privados

Pode ter sido a denúncia, por uma ONG, de que aceitara em 2017 sete viagens em aviões privados, ou o desejo de concorrer contra Trump em 2020.
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No mesmo dia em que uma ONG exigiu publicamente uma investigação aos sete voos em jatos privados que Nikki Haley declarou, na sua declaração de impostos, ter aceitado em 2017, a antiga governadora da Carolina do Sul e o presidente anunciaram a sua saída do lugar de embaixadora na ONU, para o qual foi nomeada em janeiro de 2017. O presidente, porém, garantiu que Haley já lhe tinha dito, há seis meses, que "queria fazer uma pausa." Por sua vez, ela negou que a saída tenha em vista apresentar-se como alternativa mais moderada a Trump, em 2020, certificando que não tenciona candidatar-se.

A notícia é desta terça de manhã: a ONG Citizens for Responsability and Ethics in Washington (CREW, ou Cidadãos para a Responsabilidade e a Ética) apelou a que os voos que Haley admitiu ter aceitado, em Washington e Nova Iorque e a Carolina do Sul, pagos por empresários desse Estado, que governou entre 2010 e 2017, e que segundo a CREW corresponderão a mais de 24 mil dólares (20876 euros) - a ex embaixadora diz que valem menos, cerca de 3200 dólares --, sejam investigados pela inspeção do Departamento de Estado (o correspondente ao nosso ministério dos Negócios Estrangeiros).

Horas mais tarde, surgia o anúncio da demissão.

20 mil euros ou menos de três mil?

"Ao aceitar voos privados como presente, a embaixadora parece ter alinhado com outros membros da administração que se aproveitaram dos seus cargos para obter benefícios", afirmou Noah Bookbinder, o diretor executivo da CREW. "As nossas leis e regras éticas são claras no sentido de que até a aparência de corrupção e impropriedade devem ser evitadas. No mínimo, Nikki Haley deveria ser sensível ao que faz parecer o facto de aceitar presentes caros de empresários, numa altura em que outros altos funcionários da Casa Branca foram apanhados em escândalos relacionados com viagens luxuosas."

Halley respondeu à suspeita alegando que tem relações pessoais com os empresários em causa. Mas certo é que existem regras que restringem o valor de presentes que os membros de governo e altos funcionários podem receber, e que a administração Trump, que ainda não fez dois anos, já sofreu várias baixas relacionadas com gastos considerados impróprios ou por aceitarem "presentes" de interesses relacionados com os ses cargos.

Foi o caso de Scott Pruit, o chefe da Agência de Proteção Ambiental, que se demitiu depois de se descobrir que pagava renda reduzida num apartamento pertencente a um lobista da indústria do gás e que usara dinheiro dos contribuintes para pagar viagens caras e segurança.

Filha de imigrantes e contra KKK

Falada como possível candidata a vice-presidente ao lado de Mitt Romney, em 2012, Nimrata Nikki Randhawa Haley, de 46 anos, é filha de imigrantes sikh do Punjab, Índia. Eleita para o parlamento da Carolina do Sul em 2004, e reeleita em 2006 e 2008, defendeu baixa de impostos e restrições ao aborto. Em 2010 concorreu para governadora, com o apoio de Mitt Romney e Sarah Palin, e ganhou.

Três dias após o massacre de 2015 em Charleston, quando um supremacista branco abriu fogo numa igreja e matou nove pessoas, anunciando que tinha ido ali "para matar negros", Haley apelou para que a bandeira confederada, hasteada na sede do parlamento desde os anos 1960, em protesto contra o movimento dos direitos civis, fosse retirada, o que veio a suceder.

Em 2016, esta convertida ao cristianismo voltou a ser um nome falado para a corrida presidencial, desta vez ao lado de Trump. Mas em vez disso acabaria por criticá-lo por não rejeitar de imediato o apoio da Ku Klux Klan. Trump contra-atacou, dizendo que ela estava "a envergonhar o povo da Carolina do Sul", mas uma vez eleito convidou-a para um cargo de política internacional, para o qual ela não tinha qualquer preparação.

A última controvérsia em que esteve envolvida, em abril, disse respeito ao anúncio que fez do endurecimento de sanções à Rússia, por causa da manutenção do apoio daquele país à Síria mesmo após os ataques químicos. No dia seguinte, foi corrigida pela Casa Branca: a possibilidade de mais sanções estava em cima da mesa mas não para já. Nesse mesmo mês, Mike Pompeo tomou posse à frente do Departamento de Estado, substituindo Rex Tillerson, naquilo que foi considerado um triunfo da linha mais dura.

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