Drones, voos cancelados, militares mobilizados: o que se passa no aeroporto de Gatwick?

Governo britânico envia militares para ajudar a acabar com a disrupção do tráfego aéreo por drones. 110 mil passageiros afetados. 800 voos cancelados. Não há previsão para a reabertura
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Crise dos drones em Gatwick, o segundo maior aeroporto de Londres, está a gerar o desespero entre os passageiros que viram os voos cancelados e forte preocupação entre as autoridades e o governo britânico.

Quando é que começou esta crise dos drones no aeroporto de Gatwick?
A presença do primeiro drone foi detetada às 21.00 de quarta-feira, obrigando a cancelar descolagens e aterragens naquele que é o segundo maior aeroporto de Londres, algo que afetou, desde logo, cerca de 10 mil passageiros. Às 03.01 desta quinta-feira o aeroporto foi de novo reaberto, mas teve que voltar a ser encerrado, 45 minutos depois, por voltar a ser novamente detetada a presença de drones sobre as suas pistas. Houve outros avistamentos, às 08.45, entre as 11.00 e as 12.00.

Porque é que há drones a sobrevoar as pistas deste aeroporto?
A polícia acredita que este é um ato deliberado para causar perturbações no aeroporto, em plena época natalícia, altura em que a Administração de Gatwick prevê que passem pelos terminais do aeroporto cerca de 2,9 milhões de passageiros. Apesar de tudo as autoridades de Sussex e Surrey, descartam que se trate de uma ação terrorista.

"Acreditamos que este é um ato deliberado para causar disrupção no aeroporto. Porém, não há, em absoluto, indicações de que se trate de terrorismo", declarou o superintendente Justin Burtenshaw, comandante da polícia de Gatwick, citado pelos media britânicos.

As autoridades pediram entretanto a ajuda dos cidadãos para tentar obter pistas sobre a localização dos operadores dos drones e 20 unidades da polícia estão a fazer buscas na área circundante às pistas de aterragem e descolagem. E entretanto pediram também a intervenção das Forças Armadas do Reino Unido nesta crise dos drones.

Qual será a intervenção dos militares nesta crise?
O ministro da Defesa britânico, Gavin Williamson, confirmou o pedido de ajuda da polícia de Sussex. "Vamos mobilizar as Forças Armadas para lhes dar a ajuda que eles precisam para lidar com a situação dos drones em Gatwick. As Forças Armadas têm um leque único de capacidades e isto não é algo que nós mobilizemos para o terreno normalmente. Mas estamos a ajudar com tudo o que podemos para podermos reabrir o aeroporto na primeira oportunidade que tivermos".

Instado pelos jornalistas a dizer que tipo de intervenção têm, neste cenário, as Forças Armadas, o ministro não quis dar mais detalhes. O Daily Mail, porém, referiu a presença no terreno de agentes armados com espingardas de assalto Heckler & Koch, prontos a disparar contra drones ao longo da estrada. Mas, até, agora, sem grande sucesso naquilo que o jornal britânico classifica de jogo do gato e do rato entre as autoridades e o operador ou operadores dos drones.

O que fez o governo conservador liderado por Theresa May?
Depois do Brexit, Gatwick é a nova dor de cabeça do Executivo, de imediato acusado pelo Labour, na oposição, de reação lenta. Também aqui nesta crise dos drones. O ministro dos Transportes britânico, Chris Grayling, declarou: "Este é claramente um incidente muito sério que está em curso e que um número substancial de drones foi usado para provocar o encerramento deste importante aeroporto internacional. As pessoas que estão envolvidas nisto irão enfrentar responsabilidades máximas. O governo está a fazer tudo o que está ao seu alcance para ajudar a polícia de Sussex".

Segundo a Sky News, este ministro terá indicado que as restrições de voo noturno poderiam ser levantadas noutros aeroportos para ajudar a escoar passageiros. Falando em conferência de imprensa, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, afirmou: "Sinto muito por todos os passageiros cujos planos de viagem foram perturbados por esta atividade de drones e do que se teve que fazer em resposta. Nesta altura do ano isso é particularmente difícil para as pessoas".

Os trabalhistas criticaram o Executivo pela sua lentidão e instaram-no a criar uma zona de exclusão aérea para drones à volta dos aeroportos. Os liberais-democratas, por seu lado, defenderam medidas mais duras. Lady Sugg, desse partido centrista, declarou, citada pelo Guardian: "Precisamos absolutamente de introduzir leis sobre o uso responsável e seguro de drones. No início deste ano, nós apresentámos uma lei que torna ilegal operar drones a menos de 1 Km de um aeroporto e acima dos 400 pés [121 metros]".

Quantos passageiros foram afetados por esta crise?
Até ao momento foram cancelados 800 voos e há notícia de 110 mil passageiros afetados. De Gatwick chegam imagens de pessoas, adultos e crianças, deitados pelo chão, com ar de desespero, malas amontoadas, filas intermináveis, caos.

Os voos de Gatwick têm sido desviados para outros aeroportos britânicos, como o de Luton, Heathrow, Stansted e Manchester, bem como para outros aeroportos de outros países da União Europeia. O incidente em curso naquele aeroporto de Londres obrigou a cancelar voos em Lisboa, no Porto e em Faro. A EasyJet anunciou, entretanto, que cancela, por hoje, todos os seus voos com destino a Gatwick dada a situação.

Nos cafés nas proximidades de Gatwick, constatou uma reportagem do Guardian, os passageiros desapontados acumulam-se a começa já a faltar comida para tanta gente. Alguns dos habitantes das imediações do aeroporto estão a oferecer-se para deixar pernoitar os passageiros em suas casas.

Quando é que o aeroporto de Gatwick vai reabrir?
A Eurocontrol - Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea - mudou, várias vezes, ao longo do dia, a sua previsão de reabertura do aeroporto de Gatwick. A última falava em 22.00. Porém, o CEO de Gatwick, Stewart Wingate, divulgou um comunicado no qual diz não haver qualquer previsão sobre a reabertura do aeroporto.

"Estes acontecimentos colocam em evidência um desafio estratégico para a aviação deste país e precisamos, juntos, de fazer face a ele e rápido - indústria de aviação, governo e todas as autoridades relevantes. Não pode ser possível que os drones possam encerrar uma parte vital das nossas infraestruturas desta forma. Obviamente, é uma tecnologia relativamente moderna, mas precisamos pensar juntos nas soluções mais acertadas para que isto não volte a acontecer. No entretanto, estamos focados em dar resposta a este desafio e em normalizar o serviço para os passageiros. Neste momento não estou em posição de dizer ao certo quando isso poderá acontecer mas todos estão a dar o seu melhor para ajudar a que isso aconteça", fez saber, aquele responsável.

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