Dividido sobre o Brexit, Labour vota nova estratégia e Corbyn pode perder
O Labour está dividido em relação à estratégia sobre o Brexit, com a liderança a defender uma posição neutral e o apoio a um segundo referendo, mas as bases a quererem apostar desde já na defesa da continuação do Reino Unido na União Europeia. Sem chegar a acordo sobre um único texto, os delegados do partido ao Congresso que está a decorrer em Brighton votam esta tarde, por volta das 17.00, em três opções diferentes. E Jeremy Corbyn pode perder.
O plano do líder do Labour é, após uma eventual vitória nas eleições gerais, manter a sua neutralidade enquanto negoceia um novo acordo com a União Europeia, no espaço de três meses. A ideia é ter um novo referendo no espaço de seis meses, com o partido a decidir então, num congresso especial, se apoia o novo acordo ou a continuação do Reino Unido na União Europeia (o Remain). O objetivo é, na campanha para as eleições gerais, não alienar os eleitores trabalhistas que são a favor do Brexit.
O problema é que as bases do partido têm defendido que o Labour assuma desde já a defesa do Remain, com várias sondagens a mostrar que os eleitores estão confusos em relação à posição do partido. Os trabalhistas fizeram campanha a favor do Remain no referendo de 2016, mas Corbyn foi acusado de não ter tido uma posição muito ativa -- ele é, afinal, um eurocético, tendo votado a favor da saída do Reino Unido da Comunidade Económica Euro0pea em 1975, votado contra o Tratado de Maastricht em 1993 e contra o de Lisboa em 2008.
Sem ser possível chegar a um texto de consenso e os delegados ao Congresso terão hipótese de votar em três propostas: o problema é que podem ganhar as três, apesar de as duas primeiras serem contraditórias.
A primeira escolha é a proposta pela Comissão Nacional Executiva (NEC, na sigla em inglês), próxima da linha defendida por Corbyn, que quer adiar a decisão para outro congresso, dedicado exclusivamente ao tema. "O NEC acredita que é correto que o partido só decida sobre como fazer campanha [num referendo do Brexit] num congresso especial de um dia, depois da eleição de um governo do Labour", diz o documento, citado pelo The Guardian.
A segunda proposta (oficialmente a 13) exorta os trabalhistas a apoiarem desde já o Remain. "O Labour deve refletir as posições maioritárias dos seus membros e eleitores, que querem ficar na União Europeia. O Labour vai por isso fazer uma campanha enérgica para um segundo voto e para ficar na União Europeia nesse referendo, ao mesmo tempo que reconhece os direitos dos membros que querem discutir outra posição", lê-se no texto.
Finalmente a terceira proposta (a 14) apoia a posição da liderança do partido, não dizendo explicitamente que a posição do Labour deve ser adiada. Diz apenas que Corbyn deixou "abundantemente claro" o caminho a seguir ao apoiar um segundo referendo.
"Estou à frente do partido, estou orgulhoso de liderar o partido, estou orgulhoso da democracia do partido e claro que irei seguir a decisão a que o partido chegue", afirmou Corbyn numa entrevista com a BBC.
Mas o líder do Labour tem pela frente uma votação complicada, ainda mais porque o sindicato Unison, um dos maiores do Reino Unido com 1,3 milhões de membros que representa os funcionários públicos, já disse que vai votar contra a proposta do NEC e a favor da segunda proposta, a 13, e abster-se na 14. "É outro momento difícil para a liderança partidária -- muito significativo que o maior sindicato vá contra a posição de Corbyn", escreveu a jornalista da BBC, Laura Kuenssberg, no Twitter.
Outra posição importante será a dos membros do Momentum, uma plataforma criada a partir das bases para apoiar Corbyn. A direção terá decidido apoiar a declaração da NEC.
Uma sondagem Opinium, para o Observer, publicada no domingo, dá 15 pontos percentuais de avanço aos conservadores de Boris Johnson, com 37% das intenções de voto, face aos 22% do Labour. E só 31% dos inquiridos consideram que a visão dos trabalhistas é clara, contra 58% para a dos conservadores.
Johnson insiste que o Reino Unido vai sair da União Europeia a 31 de outubro, com ou sem acordo, mesmo depois de os deputados terem votado para impedir esta última hipótese. O Supremo Tribunal britânico vai pronunciar-se esta segunda ou terça-feira sobre a legalidade de o primeiro-ministro ter suspendido o Parlamento.