17 dezembro 2017 às 00h40

Campanha da prisão vale sanções contra Junqueras e Sánchez

Cabeça de lista da Esquerda Republicana da Catalunha e número dois da Junts per Catalunya enviaram mensagens áudio para os respetivos comícios

Susana Salvador

"O futuro só tem sentido se trabalharmos para construir uma sociedade justa desde o respeito mais escrupuloso da dignidade de cada um", ouviu-se no comício da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), em Barcelona. Era o início de uma mensagem áudio de 46 segundos gravada pelo líder do partido, Oriol Junqueras, que poderá custar ao ex-vice-presidente catalão tempo no pátio da prisão de Estremera, onde está desde 3 de outubro.

Outra mensagem áudio, transmitida num comício do Junts per Catalunya na sexta-feira, levou os serviços prisionais a mudarem Jordi Sánchez, ex-presidente da associação Assembleia Nacional Catalã, de cela em Soto del Real. Junqueras é acusado de sedição, rebelião e peculato na organização do referendo de 1 de outubro e consequente declaração de independência. Já Sánchez por sedição nos protestos prévios à consulta.

Segundo o El País, ambas as prisões abriram processos contra os dois reclusos por causa das gravações. Suspeita-se que possam ter sido feitas durante alguma visita. No caso de Sánchez, foi o advogado Jordi Pina que confirmou à Europa Press que o seu cliente foi mudado, tendo a cela onde se encontrava sido alvo de buscas porque se pensou que a mensagem tivesse sido transmitida em direto por telemóvel. Pina indicou contudo que Sánchez ditou ao telefone a mensagem a uma pessoa que, em vez de a transcrever por escrito, a gravou. E critica a "arbitrariedade total" na decisão, pois já foram lidas mensagens escritas pelos detidos sem problemas.

Sondagens proibidas

A lei proíbe a divulgação de sondagens nos cinco dias prévios aos escrutínio em Espanha, mas desde as eleições de 2008 que o El Periòdic d"Andorra contorna a lei. Até quarta-feira, o jornal irá divulgar diariamente a sondagem do Gabinete de Estudos Sociais e Opinião Pública (GESOP).

Os números de ontem apontam para uma vitória a 21 de dezembro da ERC com 22,1% dos votos e entre 34 e 35 deputados. O Ciudadanos, de Inés Arrimadas, é segundo com 21,4%, com 27 ou 28 representantes. Ontem, a candidata recebeu o apoio do ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls (nascido em Barcelona), que alertou contra o perigo do nacionalismo, assim como do Nobel da Literatura, Mario Vargas Llosa.

Atrás de ERC e Ciudadanos está o Junts per Catalunya de Carles Puigdemont (17,5%, 25 a 26 deputados). Seguem-se os socialistas catalães de Miquel Iceta (17,1%, 23-24); o Catalunya en Comú-Podem de Xavier Domènech ( 8,5%, 9-10); a Candidatura de Unidade Popular de Carles Riera (6,1%, 7-8); e finalmente o Partido Popular de Xavier García Albiol (5,4%, 6-7).

Feitas as contas, os independentistas não têm garantida a maioria absoluta, já que podem ter entre 66 e 69 deputados e essa maioria é de 68. Em votos, não iriam além dos 45,7%, dois pontos percentuais abaixo do obtido nas eleições de 2015 e um revés para aqueles que veem nestas eleições uma hipotética segunda volta do referendo de 1 de outubro.